Ser professor? Eu? Não mesmo!
Autor: Rodrigo Fróes
Percebemos que cada vez menos professores se formam. Universidades e governo oferecem incentivos para combater o desinteresse pela docência, mas tais medidas não impactam, pois menos estudantes têm procurado faculdades para seguir a docência – e muitos dos que completam o curso sequer têm a sala de aula como meta.
Como professor de ensino superior percebo o declínio em todos os níveis de formação das licenciaturas: desde a quantidade de matrículas e concluintes até as altas taxas de evasão, tanto na rede pública quanto na particular.
O questionamento é porque os jovens não querem ser professor? Parte da juventude não tem interesse na docência, tem até uma visão de que a qualidade do trabalho docente é pior do que outros serviços. Lamentável mas é uma realidade vivida hoje que impactará diretamente no futuro dos bancos escolares.
Um estudo encomendado pela Fundação Victor Civita (FVC) à Fundação Carlos Chagas (FCC) traz dados concretos e preocupantes: apenas 2% dos estudantes do Ensino Médio têm como primeira opção no vestibular as graduações diretamente relacionadas à atuação em sala de aula – Pedagogia ou alguma licenciatura.
Os principais fatores que podemos apontar para tais dados alarmantes é a baixa remuneração, a desvalorização social da profissão, insegurança, falta de incentivo familiar, desinteresse e o desrespeito dos alunos. Em territórios marcados pelo tráfico de drogas, escolas são invadidas, fechadas e os professores trabalham sob forte pressão, com impactos na atividade de ensinar e consequentemente na aprendizagem dos alunos. São muitos os casos de violências físicas, agressões verbais de alunos sobre professores, problemas que ultrapassam os muros da escola e que exigem o desenvolvimento de políticas sociais que ajudem o professorado. Intensificação, complexificação e precarização marcam hoje o magistério nas redes de ensino. Há por último um problema que passou a impactar o trabalho do professor e que advém das políticas de avaliação como Prova Brasil, Enem, Saeb, Ideb. A existência desse tipo de regulação e a responsabilização sobre os docentes contribui para a perda da autonomia professoral com impactos sobre o bem estar profissional.
Contudo, sou professor me orgulho do profissional que sou e digo que é urgente a necessidade que cabe aos administradores do poder público o desenvolvimento de estratégias de valorização do magistério (via formação, salários dignos e boas condições de trabalho) tendo em vista evitar a evasão e o abandono da profissão docente.