terça-feira, maio 14, 2024
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Ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle esconde patrimônio não declarado na Noruega

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Investigada por comandar as rachadinhas enquanto trabalhou no gabinete de Carlos Bolsonaro, a advogada Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente da República, esconde um patrimônio não declarado na Noruega.

Halden, na Noruega, é uma cidade de calçadas e telhados perfeitos às margens de um rio de águas límpidas e de frente para uma ilha forrada de coníferas.

A 118 quilômetros da capital Oslo, mas a apenas vinte minutos da fronteira com a Suécia, tem 31 mil habitantes e uma economia centrada na produção de madeira.

Foi para lá que a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, a segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro, envolvida até o pescoço nas investigações sobre as rachadinhas da família presidencial, se mudou depois de conhecer, onze anos atrás, o carpinteiro Jan Raymond Hansen.

No número 12 da pacata rua Ole Dahls Gate está registrada a Byggmester Hansen & Thovsen AS, a marcenaria de Hansen.

A julgar pelo preço do metro quadrado na região, o imóvel, um enorme sobrado retangular de 593 metros quadrados, vale cerca de 13 milhões de coroas norueguesas, ou mais de 7 milhões de reais. Metade pertence a Cristina.

Ao longo de quase quatro anos de governo, a história da ex-mulher de Bolsonaro foi esmiuçada por jornalistas e pelos promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro que investigam as rachadinhas e a participação da advogada no recrutamento de funcionários fantasmas nomeados nos gabinetes do clã.

Mas pouca gente percebeu que Cristina esconde parte de seu patrimônio na Escandinávia. Crusoé localizou o registro do imóvel junto à Autoridade Norueguesa de Mapeamento (Kartverket, em norueguês), no qual a mãe de Jair Renan, o filho 04 do presidente, aparece como dona do imóvel.

Cristina, contudo, não declarou a propriedade ao Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, conforme atesta a declaração de bens que ela protocolou ao disputar, em 2018, uma vaga na Câmara dos Deputados.

Segundo informou o tribunal, “a resolução TSE 23.609, que trata do registro de candidatura, exige que a candidata ou candidato apresente a relação atual de bens contendo o valor declarado à Receita Federal”.

Ou seja, Cristina aparentemente escondeu o imóvel em Halden também ao declarar o imposto de renda, o que configura crime de sonegação fiscal, cuja pena é de até dois anos de prisão, além de multa.

Em 2018, o patrimônio declarado da ex-mulher de Jair Bolsonaro somava 842 mil reais. Mas, àquela altura, ela já não declarava os bens que possuía no exterior.

Ana Cristina comprou sua primeira casa, um carro e um barco em Halden sete anos antes, em 2011, relatam pessoas que a conheceram na Noruega.

A dolce vita impressionou os brasileiros com os quais ela passou a conviver – quase todos levavam uma vida de trabalho duro e braçal.

“Eu me recordo que ela tinha comprado, assim que mudou pra Halden, uma casa, um carro Volvo e um barco de médio porte com o Jan”, diz o enfermeiro Fernando Xavier, que abrigou Cristina em Oslo antes de ela se mudar para a cidadezinha no sudeste do país.

Uma ex-inquilina da advogada, que preferiu não se identificar, relembra: “Ela chegou aqui na Noruega dizendo que era advogada. Antes de conhecer o Jan, abriu até uma firma para poder ficar no país”, afirmou.

“Ela dizia que a família dela era toda dos gabinetes. A irmã, o pai, o irmão, todos dos gabinetes dos filhos do Bolsonaro. Isso ela dizia. Uma vez ouvi ela dizer: ‘Quem é que não rouba?’. Ela pediu que ninguém aqui desse meu número para nenhum jornalista, com medo de eu falar”, emenda a ex-inquilina, que diz ter depositado para Ana Cristina, por meio da conta de Hansen e por cinco anos consecutivos, um aluguel mensal que chegou a 6.400 reais (11,5 mil coroas norueguesas).

Na Noruega, tempos depois de chegar, Ana Cristina Valle passou a trabalhar como babá. Um passatempo, segundo Fernando Xavier. “Aqui em Oslo ela olhava umas crianças, mas nada muito profissional. Era uma maneira de ocupar a mente, porque o Jair Renan era bem menino, e ela sofria com a ausência dele depois que o pai tirou a guarda”, conta.

Mesmo com o salário irrisório que tinha à época, Ana Cristina comprou duas casas na mesma rua. A primeira, a de número 8 da Ole Dahls Gate, segundo a Autoridade Norueguesa de Mapeamento, foi adquirida em abril de 2011, mesmo ano em que a advogada acertou a divisão dos bens com Bolsonaro, poucos anos depois de tê-lo acusado de sumir com pertences guardados em um cofre que o casal mantinha numa agência bancária no Rio de Janeiro.

À época, Cristina buscava recomeçar a vida na Noruega após o conturbado divórcio com Bolsonaro, com quem foi casada por dez anos, entre 1998 e 2008.

A disputa pelos bens do casal e pela guarda de Jair Renan, então com 13 anos, durou justamente até 2011.

Depois de levar o filho para a Noruega sem o consentimento do pai e ser pega pelo Itamaraty, Cristina chegou a um acordo com o hoje presidente do Brasil. Jair Bolsonaro ficou com a guarda do filho, ela voltou à Noruega.

Foi naquele mesmo ano que a advogada deixou o quarto que alugava em uma casa em Oslo e comprou o imóvel em Halden “para alugar”. “É uma casa que tem quatro quartos e duas cozinhas. Cada andar é um apartamento independente. Ela comprou inteira, para alugar”, diz a ex-inquilina brasileira.

Foi também em 2011, conforme identificou o Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, que a advogada movimentou seus bens no Brasil: fez dois depósitos em dinheiro em sua conta, que somaram 532,2 mil reais, logo após vender cinco terrenos num valor total de 1,9 milhão reais.

Mais tarde, em fevereiro de 2013, a ex-mulher de Bolsonaro decidiu comprar também um dos andares da casa número 12 da mesma rua, que pertencia a seu então marido norueguês, Jan Hansen, e de cuja metade até hoje é a dona. Além de carpinteiro, Hansen trabalha também como corretor de imóveis.

“Ela ficou com as duas casas por um tempo, a casa 12 ela reformou todinha. Depois ela vendeu a casa 8 para construir num terreno que tinha em Resende (município do interior do Rio de Janeiro). Ela vendeu por 2 milhões de krones (coroas norueguesas), 2 milhões e pouco. Eu era amiga dela e sei. Ela me falou. Ela comprou essa casa antes de casar com Jan. Nunca morou na casa número 8. Morava na casa 12 com o Jan, no andar de baixo. Depois, comprou a parte de cima e ele ficou com a parte de baixo”, afirma a ex-inquilina de Ana Cristina. De acordo com os dados do governo norueguês, a casa número 8 foi vendida em fevereiro de 2015.

Na Noruega, como em outros lugares da Europa, algumas casas são divididas em apartamentos. Segundo o site norueguês Virdi, que reúne imóveis à venda em Halden, em junho do ano passado, por exemplo, no número 7 da mesma rua onde fica o imóvel da ex de Bolsonaro, o pavimento de uma casa com dois quartos e 65 metros quadrados foi vendido por 1,6 milhão de coroas norueguesas – ou 898 mil reais.

Outra casa, no número 18 da Ole Dahls Gate, com 121 metros quadrados de área construída e 740 metros quadrados de terreno, foi vendida também em 2021 por 2,4 milhões de coroas norueguesas, o equivalente a 1,3 milhão de reais.

Quando começou a fazer negócios imobiliários no país europeu, Ana Cristina tinha encerrado uma temporada de oito anos como chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, o filho 02 do presidente, onde esteve oficialmente nomeada entre 2001 e 2008.

Juntamente com Carlos, ela é investigada pelo MP do Rio sob suspeita de gerenciar as rachadinhas. Pelos vários gabinetes do clã Bolsonaro, ela empregou uma amiga, Adriana Teixeira, alguns familiares dela e, ainda, quase duas dezenas de integrantes de sua própria família.

Alguns passaram até doze anos seguidos lotados como assessores dos gabinetes do próprio Carlos e de Flávio Bolsonaro, segundo a investigação da 3ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada.

De acordo com os promotores, Ana Cristina teria empregado esse monte de gente próxima para “viabilizar o desvio dos recursos públicos” por meio das rachadinhas.

Suspeita de lavar dinheiro e de movimentar valores incompatíveis com sua renda, ela tem dez parentes sob investigação em outro processo, na companhia do senador Flávio Bolsonaro e do faz-tudo Fabrício Queiroz.

Indagado por Crusoé, o promotor Alexandre Murilo Graça, que toca a investigação sobre Carlos Bolsonaro e Ana Cristina no Rio, não quis responder se o MP tem conhecimento do patrimônio da ex de Jair Bolsonaro no exterior. Também procurada, a própria Ana Cristina não respondeu às tentativas de contato.

Nesta quinta-feira, 10, o advogado dela, Magnum Cardoso, disse que não gostaria de se manifestar.

A casa de Ana Cristina em Halden permanece alugada. Quando viaja para lá, ela costuma se hospedar na residência dos sogros. Foi o que aconteceu no fim do ano passado, quando foi vista fazendo compras em Nordby, cidade sueca que fica próxima a Halden.

Em Brasília, para onde se mudou há pouco mais de um ano, Ana Cristina tem uma rotina intensa. Passou a supervisionar os negócios de Jair Renan e participa com certa frequência de encontros na companhia de lobistas, como Marconny Faria e Silvio de Assis, suspeitos de envolvimento em negócios escusos no Ministério da Saúde.

Na capital federal, ela e Jair Renan vivem em uma confortável casa no nobre Lago Sul – em mais uma história nebulosa envolvendo os imóveis da família, pouco antes de os dois se mudarem, o imóvel havia sido comprado e registrado em nome de um corretor que mora em um endereço periférico de Brasília.

Ana Cristina também se aproximou de Frederick Wassef, advogado de Flávio e de Jair Bolsonaro, e do ministro João Otavio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça.

Para além de manter o presidente em alerta, com ameaças sutis como a de escrever um livro sobre seu passado explosivo, a advogada agora trabalha para a deputada federal Celina Leão, do PP do DF.

Na quarta-feira, 9, embora fosse dia de expediente normal no gabinete da parlamentar do Centrão, a ex de Bolsonaro estava no Espírito Santo – coincidentemente, o estado onde vivem os empresários que doaram um carro elétrico à empresa de eventos de Jair Renan, o que colocou o rapaz no centro de uma investigação da Polícia Federal por suposto tráfico de influência.

Seis dias antes, Marcelo Luiz Nogueira, um ex-funcionário de Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que por anos trabalhou na casa de Ana Cristina como uma espécie de babá de Jair Renan, publicou no Instagram uma foto da entrada do prédio onde a advogada tem escritório, no centro do Rio.

Há poucos meses, Nogueira disse ter rompido com a família, acusou Ana Cristina de maus tratos e ameaçou revelar à Justiça os podres dos Bolsonaro.

No post recente no Instagram, ele escreveu: “Os bastidores da grana suja, assim começará uma longa e interessante história financeira. Lançamento em breve”. Embora pareça provocação, uma pessoa próxima diz que ele passou por lá para uma visita ao escritório. No Brasil ou na Noruega, os bastidores do clã Bolsonaro, com seus múltiplos segredos, são sempre eletrizantes.

 

Conteúdo Crusoé 

Foto: Divulgação 

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Eric Lima

Criador do Portal Pontual

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na área de concentração de Epidemiologia de Agravos e Prevalentes na Amazônia pelo instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Pará (UFPA - 2013). Tem experiência em pesquisa na área de Epidemiologia, Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Pública, Avaliação de Serviço em Saúde e Saúde Baseada em Evidências, desenvolvendo estudos nos temas: Tuberculose, Resistência aos fármacos, Tuberculose Multirresistente, Coinfecção TB/HIV.

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