Após a aprovação de duas vacinas contra o novo coronavírus no Brasil, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, oficializou na manhã de hoje a entrega das vacinas aos governadores que viajaram para São Paulo para um ato simbólico e disse que a imunização deve começar ainda hoje. O evento ocorreu no Centro de Distribuição Logística do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
O PNI (Plano Nacional de Imunização) estava previsto para começar na quarta-feira (20), mas, em discurso, o ministro cedeu à pressão dos governadores. “Depois de ouvir os governadores, chegamos à decisão de que hoje ainda distribuiremos todas as vacinas aos estados, todas”, afirmou.
“A gente pode colocar a ideia de hoje ao final do expediente os estados começarem no município principal a começar a vacinar, com isso a gente adianta um dia. Acho que a gente pode começar hoje ao final do expediente.”, disse Eduardo Pazuello.
Depois de decidir durante a conversa com os governadores sobre o início da imunização, Pazuello disse que a distribuição das vacinas para os estados, a partir do Aeroporto de Guarulhos, respeitou “a proporcionalidade” ao dividir as 6 milhões de doses “com as informações que vieram dos estados”.
Ele admitiu que “os processos decisórios não foram fáceis para se votar unanimemente [na Anvisa] para autorizar o uso emergencial” das vacinas. “Há ressalvas ainda com documentos a serem cumpridas até 31 de março”, disse.
“O Butantan e a Anvisa cumpriram com seu papel, e o nosso é aplicar e monitorar todos os vacinados”, afirmou ao mencionar “de cabeça” os grupos prioritários: “profissionais de saúde, idosos em instituição de longa duração, indígenas aldeados, deficientes com deficiências específicas”.
Críticas a Doria
O convite aos governadores foi feito ontem (17) por Pazuello pouco depois de acusar o governador João Doria (PSDB-SP) de fazer marketing por iniciar a vacinação contra a covid-19 em São Paulo antes do PNI. Estão presentes os governadores ou vice de 19 estados. O representante de São Paulo é o vice Rodrigo Garcia (DEM-SP).
O objetivo da reunião com os governadores, no entanto, é realizar uma cerimônia com fotos que marquem o início da distribuição das vacinas para o Brasil a partir de São Paulo, onde estão as doses da CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.
Ontem, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou o uso emergencial da CoronaVac e da vacina Oxford/AstraZeneca, desenvolvida pela Universidade de Oxford, do Reino Unido, e pelo laboratório AstraZeneca, que será produzida no Brasil pela Fiocruz. Os dois imunizantes são os primeiros aprovados no país no combate à covid-19.
“O Ministério da Saúde tem em mãos, neste instante, as vacinas tanto do Butantan quanto da [farmacêutica] AstraZeneca”, afirmou o ministro. “Nós poderíamos, em um ato simbólico ou em uma jogada de marketing, iniciar a primeira dose em uma pessoa. Mas em respeito a todos os governadores, prefeitos e todos os brasileiros, o Ministério da Saúde não fará isso. Não faremos uma jogada de marketing”, disse Pazuello no domingo.
Diferentemente do que disse Pazuello, no entanto, a vacina de Oxford/AstraZeneca ainda não está disponível no país. O governo federal pretendia importar 2 milhões de doses produzidos na Índia, mas a viagem foi cancelada após indefinições de questões diplomáticas.
Mal-estar entre governadores
A decisão de João Doria (PSDB-SP) de aplicar a primeira vacina neste domingo (17) gerou mal-estar entre os governadores. Em um grupo de WhatsApp, Wellington Dias (PT-PI) disse que a atitude foi lamentável. “O entendimento sempre foi o Brasil numa mesma data. Um estado coloca os demais como de segunda categoria”, escreveu. A insatisfação chegou a Pazuello, que sentiu confiança para convidar governadores a um ato simbólico nesta segunda-feira (18).
Até o início da manhã de hoje, pouco mais de cem pessoas já tinham recebido o imunizante em São Paulo. A vacinação no estado começou logo após a CoronaVac ser aprovada para uso emergencial pela Anvisa. A enfermeira Mônica Calazans, que trabalha na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, foi a primeira pessoa vacinada no país.
A campanha continua hoje no Hospital das Clínicas da capital paulista. O início foi programado para as 7h, com a vacinação de profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à doença.
Há meses, a corrida pela vacina é marcada por discussões entre Doria e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), adversários políticos de olho nas eleições de 2022. Até a manhã desta segunda, Bolsonaro ainda não comentou o início da imunização.
O transporte das vacinas
As primeiras doses enviadas a outros estados devem ser levadas pela FAB (Força Aérea Brasileira). Aviões comerciais das quatro maiores companhias aéreas do país também devem ajudar na distribuição das vacinas —Gol, Latam, Azul e Voepass, se puseram à disposição do governo para transportar gratuitamente os imunizantes.
O presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz, afirmou que o objetivo das companhias é acelerar o processo de vacinação. “A vacina é o que todos esperam. A ideia é fazer todos os esforços para distribuir o mais rápido possível”, afirmou ao UOL.
As vacinas deverão ser transportadas nos porões de cargas dos aviões comerciais. A Azul afirmou que a estimativa é transportar até 5.000 doses por voo. Já a Latam disse que os aviões do modelo Airbus A320 têm a capacidade para até 800.000 doses da vacina, embora este número possa variar de acordo com o tipo da vacina a ser transportada. A Gol não apresentou uma estimativa.