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Entusiasmado até o fim com o boxe, Newton Campos morre aos 96 anos

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No corredor do seu apartamento na Alameda Barão de Limeira, no centro de São Paulo, Newton Campos tinha pendurado vários quadros.

Apenas um não tinha referência ao boxe. Tratava-se de um rosto de Carlos Gardel esculpido com o trecho do tango “Adios Muchachos” (adeus rapazes, em espanhol).

“Me toca a mi hoy emprender la retirada. Debo alejarme de mi buena muchachada” (cabe a mim hoje empreender a retirada. Devo afastar-me da minha boa rapaziada, em tradução livre).

O cantor nascido na França e disputado por argentinos e uruguaios era uma das paixões de Campos. Não a maior. Perdia de lavada para o esporte ao qual se dedicou até o final da vida.

Jornalista, comentarista de TV e presidente da Federação Paulista de Boxe há 32 anos, Campos morreu nesta segunda-feira, aos 96 anos. Ele sofreu um enfarto em casa.

“Eu sou um entusiasmado mesmo. Sem entusiasmo, você não chega a lugar algum”, definiu ele para o jornal Folha de S.Paulo em 2020.

Até as últimas semanas, Campos atualizava as redes sociais da Federação e cuidava da organização da Forja dos Campeões, o mais tradicional torneio de boxe amador do país.

Ele tomava à frente de tudo. Do sorteio das lutas, marcação de pontos, divulgação da tabela e premiação. Nas noites em que o evento acontecia, era o primeiro a chegar e o último a ir embora.

Continuava a entrar em contato com treinadores e lutadores para saber de novidades. Telefonava para jornalistas amigos para pegar informações e cobrava quando eles não iam ao embarque ou desembarque de atletas que fariam lutas internacionais e por disputas de título.

Em 2019, quando Patrick Teixeira conquistou o cinturão mundial dos super médios pela Organização Mundial de Boxe, ficou de madrugada, ao lado do telefone. Estava à espera das informações sobre o combate não transmitido pelas emissoras brasileiras.

Newton Campos lembrava de tudo. Sem consultar papéis ou fazer pesquisas na internet, citava dados sobre lutadores e combates que assistiu na década de 1940.

Gostava de relatar as viagens que fez ao redor do planeta para acompanhar o esporte. Contava em detalhes exibição que viu Eder Jofre, aos sete anos, fazer no Ginásio do Pacaembu.

Foi protagonista de uma das mais incríveis histórias do jornalismo esportivo brasileiro e tinha prazer em lembrá-la.

Ele foi o único jornalista do país presente na histórica luta entre Muhammad Ali e George Foreman no Zaire (hoje República Democrática do Congo), em 30 de outubro de 1974. Por causa do fuso horário favorável, do atraso no início do evento e a sorte de o voo sair no horário, conseguiu chegar ao Brasil a tempo de publicar seu relato da luta, com fotos, na edição do dia seguinte do jornal “A Gazeta Esportiva”.

Campos considerava Joe Louis o maior boxeador de todos os tempos.

Quando perguntado sobre algum atleta e queria falar um dado estatístico preciso, saía a procurar. Seu pequeno quarto usado como escritório era dominado pelo farfalhar de papéis até que encontrasse o que queria.

Acontecia isso mesmo que fosse algo à parte do boxe. Como a palavra que lhe faltava ao citar a letra de “O Ébrio”, de Vicente Celestino, o cantor que gostava de imitar quando criança, embora o pai preferisse Gardel.

Presidente de honra do CMB (Conselho Mundial de Boxe), seu Newton, como era chamado por todos, ficou conhecido do grande público nos anos 1980 e 1990 na Rede Bandeirantes.

Ele era o comentarista das lutas de Adilson Maguila Rodrigues, que chegou perto de disputar o título mundial dos pesos pesados contra Mike Tyson.

Depois de Tyson derrotar Frank Bruno (então número 1 do mundo, o primeiro desafiante ao cinturão), em 1989, Campos acreditou que Maguila, o segundo do ranking, seria o adversário seguinte.

O CMB decidiu que não. O escolhido foi Evander Holyfield. O comentarista rasgou sua carteirinha de sócio do Conselho ao vivo, na Bandeirantes.

Para decidir o assunto, foi marcada uma luta entre Maguila e Holyfield. Quem vencesse, enfrentaria Tyson. O brasileiro foi nocauteado no segundo round.

“O Maguila ganhou o primeiro assalto. Ele batia e saía, batia e saía. No intervalo, o [Angelo} Dundee [técnico] mandou ir para cima do Holyfield. Se o Maguila continasse batendo e saindo, quem sabe venceria a luta. Partindo para o ataque, acabou nocauteado”, relembrou Campos, que jamais perdoou Dundee, ex-treinador de Ali, por isso.

Até o fim da vida, o dirigente e jornalista acreditou que o boxe voltaria à TV e que teria a mesma visibilidade do passado. Apostava que isso aconteceria se Robson Conceição conquistasse um título mundial. Em entrevista à CNN Brasil, manifestou há duas semanas sua inabalável fé nisso.

Era uma variação do entusiasmo de quem passava horas a falar da modalidade que amava, recostado em sua cadeira no centro da capital. Apontava para as fotos que estavam na parede. Uma delas, a do seu ídolo e amigo Eder Jofre.

Viúvo de Ingrid Campos, Newton deixa dois filhos, Marcel e Carlos, e quatro netos. Seu corpo será enterrado em São Carlos, no interior de São Paulo, sua cidade natal.

Por Alex Sabino/FOLHAPRESS

Foto: Divulgação

Redação por Bernardo Andrade

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Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na área de concentração de Epidemiologia de Agravos e Prevalentes na Amazônia pelo instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Pará (UFPA - 2013). Tem experiência em pesquisa na área de Epidemiologia, Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Pública, Avaliação de Serviço em Saúde e Saúde Baseada em Evidências, desenvolvendo estudos nos temas: Tuberculose, Resistência aos fármacos, Tuberculose Multirresistente, Coinfecção TB/HIV.

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