A Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), juntamente com a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), coordenado pela Universidade de Southampton, da Inglaterra, apresenta nesta Segunda-Feira, dia 13/03, a pesquisa sobre as condições do processo migratório e os impactos da migração sobre a saúde sexual e reprodutiva de mulheres e adolescentes venezuelanas.
Tal estudo será apresentado pelas pesquisadoras Maria do Carmo Leal (ENSP/ Fiocruz), Zeni Lamy e Ruth Britto (Universidade Federal do Maranhão), Pía Riggirozzi e Natália Cintra (University of Southampton).
A pesquisa tem o objetivo de apresentar os impactos que a migração causa na vida sexual e reprodutiva das mulheres venezuelanas, pois aquelas que migram para o Brasil fazem pouco uso de métodos contraceptivos, têm muitos filhos e vieram em busca de serviços de assistência à saúde. Além disso, cerca de 10% delas chegaram ao Brasil grávidas.

No total 2.012 migrantes de 15 a 49 anos que chegaram ao Brasil entre 2018 e 1021 foram entrevistadas, por mulheres venezuelanas, em Manaus (AM) e Boa Vista (RR).
Resultados da pesquisa
Um dos dados mais preocupantes de saúde das migrantes, é a separação de mães e filhos. O estudo mostra que cerca de 25% das mãe deixaram pelo menos um filho no país de origem. Numa auto avaliação, foram essas mulheres que relataram pior estado de saúde, assim como aquelas que sofreram algum tipo de violência no percurso até a chegada ao Brasil.
Entre as migrantes venezuelanas, 40% tem dois ou três filhos e 16%, quatro ou mais. As taxas de fecundidade são altas, o que prejudica financeiramente, pois além de precisarem alimentar e cuidar de muitas crianças, elas acabam sendo impedidas de trabalhar pelas circunstâncias. Quase 80% delas, vivem com um salário mínimo.
Em meio a essas situações, apenas 47% das venezuelanas no Brasil usam algum método contraceptivo. Além disso, 63% das mulheres com vida sexual ativa não utilizaram preservativo masculino nenhuma vez nos últimos 12 meses. Apenas 53% relataram usar algum contraceptivo, sendo o injetável o mais recorrente.
Segundo a coordenadora da pesquisa na Ensp/Fiocruz, Maria do Carmo Leal, o acesso aos métodos contraceptivos das venezuelanas após a chegada ao Brasil se deu principalmente pelos serviços públicos de saúde. Entretanto, muitas compram apesar da carência de seus recursos. Logo, há uma dificuldade em encontrar os métodos que são oferecidos gratuitamente.

Um dos piores momentos relatados pelas venezuelanas, foi o fechamento da fronteira por causa da pandemia de Covid-19. Muitas delas pagaram “trocheiros” para atravessar pela mata e esses homens, diversas vezes, trocaram o pagamento por sexo ou estupraram as mulheres.
Publicações
Todo esse estudo teve como resultado um livro de fotografias com imagens captadas pelas mulheres migrantes venezuelanas e um documentário intitulado “Seguir Adelante (Seguir Adiante)”.

A pesquisa realizada pela Fiocruz, UFMA e Universidade de Southampton faz parte do projeto Redressing Gendered Health Inequalities of Displaced Women and Girls (ReGHID), financiado pelo Conselho de Pesquisa Econômica e Social do Reino Unido.
As equipes de pesquisas contaram com apoio de organizações e associações que auxiliam os migrantes venezuelanos, como o projeto Mexendo a Panela, em Boa Vista, e o Hermanitos, em Manaus.
Texto: da redação.
Fotos: divulgação/ Fiocruz.
Ilustração: Neto Ribeiro/ Portal Pontual.

