A tempestade de poeira que engoliu cidades no interior de São Paulo é um fenômeno conhecido dos meteorologistas e responde pelo nome haboob, ou habub. Não é um evento tão raro quanto se possa imaginar, mas não chega a ser comum. De acordo com Estael Sias, meteorologista e sócia-diretora da MetSul Meteorologia, o fenômeno costuma ocorrer em áreas secas e com baixa umidade.
Em texto publicado no site da MetSul, Sias afirma que o haboob se forma a partir de uma tempestade comum de chuva e vento. Ele ocorre quando o ar frio desce em direção ao solo, gerando rajadas de vento em altas velocidades que empurram o ar para baixo e radialmente. Com isso, arrastam a poeira do chão.
Heráclio Alves, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), diz que a região de Ribeirão Preto estava muito seca, com temperatura alta e baixa umidade. Esses fatores, somados aos ventos que chegaram a mais de 90 km/h no aeroporto da cidade, resultaram no haboob.
A palavra, segundo a Enciclopédia Britannica, deriva do árabe “habb”, que significa vento. Esse tipo de evento é comum no Saara e no Sudão. “Não é um fenômeno raro. Acontece principalmente em momentos pré-tempestade”, diz Alves. Após moradores da região terem ido às redes sociais para falar da parede de poeira, os municípios sofreram com a chuva forte.
Nos Estados Unidos também é possível observar esse tipo de evento com alguma frequência, de acordo com a Noaa (National Oceanic and Atmospheric Administration, agência dos EUA). A Convenção da ONU (Organização das Nações Unidas) de combate à desertificação aponta que, apesar de o fenômeno ocorrer normalmente em áreas secas, as condições para as tempestades de poeira podem se instalar em praticamente qualquer local, e os fatores podem ser influenciados por ações humanas, além de pelas mudanças climáticas, desertificação e degradação.
Segundo a convenção, essas tempestades produzem significativos impactos socioeconômicos, como na agricultura, no transporte e na qualidade de ar e água -Franca passa por racionamento de água, assim como outras cidades do interior de SP. A saúde humana também pode ser afetada, com a poeira impactando pulmões e com potencial de piorar doenças respiratórias.
Ana Luisa Flausino, 32, moradora de Franca, descreveu o momento: “Estava até sol, mas ficou escuro e pensei que era chuva. Quando olhei, a poeira já tinha tomado a região toda do meu bairro. Foi uma sensação horrível de sufocamento, porque parecia que estava entrando poeira dentro de casa, estava com cheiro forte, muito forte mesmo”.
Também moradora da cidade, Nise Peres, 43, diz: “Eu olhei para o bairro da Estação e vi nuvens em tons de rosa amarronzado vindo em nossa direção. De repente, as folhas que estavam no chão começaram a voar e as árvores balançando muito forte. Aí eu senti gosto de poeira. Corri para fechar a casa e colocar as crianças para dentro. A casa toda está suja e justamente neste momento com falta de água”.
Documento da convenção da ONU também afirma que tais tempestades criam cenários para desastres principalmente no nordeste da Ásia e na América do Norte, ao mesmo tempo em que acabam um pouco negligenciadas em outras regiões. Isso ocorreria pela ausência de mortes diretas ou machucados pelo fenômeno. Há também pouca documentação dos efeitos econômicos e na saúde.
Segundo Heráclio Alves, do Inmet, apesar de não ter muito como se proteger do fenômeno -além claro, de procurar locais fechados-, a boa notícia é que esse tipo de tempestade costuma ter pequena duração.
O serviço nacional de meteorologia dos EUA também alerta motoristas para que tomem cuidado ao se depararem com essas tempestades, que prejudicam consideravelmente a visibilidade. A dica é tirar o carro da via o máximo possível e desligar as luzes do automóvel. Há indicação também de não entrar na tempestade, se for possível.
Por Phillippe Watanabe/FOLHAPRESS
Redação por Bernardo Andrade