O Ministério da Economia disse à Petrobras que não há estudos ou avaliações para a privatização da estatal neste momento, contradizendo declarações repetidas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas últimas semanas.
A série de falas de Bolsonaro sobre privatização, em meio a críticas sobre a política de preços dos combustíveis, é alvo de investigações na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que avalia o cumprimento das exigências legais de divulgação de fatos relevantes ao mercado.
As manifestações do presidente vêm gerando oscilações no preço das ações da companhia. No último dia 25, por exemplo, após entrevista de Bolsonaro, os papéis chegaram a bater alta de 7,7%. No fim do pregão, as ações preferenciais fecharam em alta de 6,84%.
No mesmo dia, a CVM abriu um processo para investigar a Petrobras, levando a empresa a cobrar do governo um posicionamento sobre o tema. Um outro processo foi aberto no dia 27, logo após Bolsonaro dizer que sabia antecipadamente de reajuste nos preços dos combustíveis.
À Petrobras, o Ministério da Economia diz “não haver fato relevante a ser comunicado ao mercado pela União neste momento ou recomendação de inclusão da desestatização da Petrobras no Programa de Parcerias de Investimentos.”
Afirma ainda, segundo a estatal, que “não há estudos ou avaliações em curso que tratem do tema no âmbito da Secretária Especial do Programa de Parcerias de Investimentos do ME [Ministério da Economia]”.
Já o Ministério de Minas e Energia, órgão ao qual a Petrobras é subordinada, diz “não ter conhecimento da existência de qualquer decisão, ato ou fato relevante da União Federal que deva ser comunicado à Petrobras para subsequente divulgação ao mercado”.
Na segunda-feira (1º), Bolsonaro afirmou em entrevista na Itália ter pedido ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para “começar a tomar as medidas para ir por parte tirando das garras do Estado a Petrobras”. A resposta do ministério à estatal foi dada nesta quinta (4).
Bolsonaro passou as últimas semanas questionando a estatal em entrevistas e lives em redes sociais. No dia 27 de outubro, data de abertura do segundo processo na CVM, disse que a empresa só dá “dor de cabeça” e está “prestando serviço para acionistas e ninguém mais”.
Com a popularidade afetada pela escalada dos preços dos combustíveis, o presidente vem buscando transferir a responsabilidade desde o início do ano, atacando governadores, postos e distribuidoras. Agora, o alvo virou a estatal.
“Eu indico o presidente, passa pelo conselho, e tudo de ruim que acontece lá cai no meu colo. O que é de bom, nada cai no meu colo”, reclamou nesta segunda-feira (1º) em entrevista concedida na Itália, na qual disse ter conhecimento antecipado sobre preços dos combustíveis.
A CVM tem processos abertos também para investigar declarações do presidente da República no início do ano, quando ele decidiu demitir o então presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, por redes sociais, sem cumprir os ritos de divulgação de fatos relevantes ao mercado.
Naquela ocasião, a empresa perdeu em apenas um dia R$ 102,5 bilhões em valor de mercado, como resposta aos sinais de interferência política na gestão da companhia.
Por Nicola Pamplona/FOLHAPRESS
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Redação por Bernardo Andrade