Após lançar Marina Silva (Rede-AC) como candidata à Presidência da República em 2018 e amargar uma das últimas posições na disputa, a Rede está dividida em relação à eleição deste ano.
Sob resistência de Marina, uma ala da sigla defende apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda no primeiro turno e procurou o PT para abrir diálogo.
Outra ala, que inclui a própria ex-candidata, discute o voto em Ciro Gomes (PDT).
Há ainda um debate para que Marina seja candidata a vice-presidente ao lado do pedetista, hipótese que enfrenta uma série de empecilhos e é rechaçada por uma parte do partido.
O presidente do PDT, Carlos Lupi, tem conversado com a ex-candidata e já disse que ela seria um bom nome para o posto.
Em meio às discussões, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a procurar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), para saber se o partido estaria disposto a abrir diálogo a respeito de aliança na eleição.
“Se tiver essa possibilidade, o PT quer conversar. A gente tem interesse de conversar com a Rede. Na eleição de 2020, a gente esteve junto em alguns municípios”, diz Gleisi à reportagem.
O contato foi feito após o jantar do grupo de advogados Prerrogativas, em São Paulo, em dezembro passado, que reuniu Lula e Geraldo Alckmin (sem partido) e do qual o próprio Randolfe participou.
“Hoje, de fato, a Rede está dividida. Boa parte do partido defende apoio a Lula já no primeiro turno. Tem resistência, mas boa parte quer isso. Tem a sugestão de liberar o voto, tanto em Ciro como em Lula”, diz o senador.
O PT trabalha para formar uma federação partidária com PSB, PC do B e PV.
Já a Rede está em tratativas avançadas para se federar ao PSOL, o que tende a acontecer.
O encaminhamento, segundo Randolfe, não inviabiliza conversas com o PT sobre aliança.
O senador defende que a Rede faça a federação com o PSOL e discuta uma coligação com o PT no primeiro turno, mas sem proibir o voto em Ciro Gomes.
Dentro do próprio PT, há quem defenda construir um diálogo mais profundo com a Rede por agregar valor simbólico.
Existe inclusive quem defenda que a sigla seja uma opção de filiação para Alckmin ser vice de Lula, o que tem chance remota de ocorrer e nem sequer foi discutido na Rede.
A porta-voz da Rede, a ex-senadora Heloísa Helena, diz que, diante das divergências na sigla, a tendência majoritária do partido, hoje, é liberar a militância.
“Alguns dos nossos mais queridos parlamentares, como Randolfe e Túlio [Gadêlha] (PE), querem apoiar Lula. Eu e outros [queremos dar apoio] ao Ciro. Então vamos ter muita paciência revolucionária de não criarmos problemas internamente, pois a nossa unidade interna é infinitamente mais importante diante da duríssima batalha que vamos enfrentar”, afirma Helena.
A porta-voz do partido diz que a sigla tem conversado com o presidente do PDT, Carlos Lupi, a respeito do programa apresentado por Ciro, mas avalia que a possibilidade de a Rede compor a chapa ao lado do pedetista, como tem sido aventado nos partidos, é “bem mais complexo”.
Além da divisão no partido, integrantes da Rede apontam que um entrave para que Marina seja candidata a vice-presidente ao lado de Ciro é o fato de João Santana ser o marqueteiro do pré-candidato.
Santana foi o responsável pela campanha de Dilma Rousseff em 2014, marcada por ataques a Marina, que acabou em terceiro lugar na disputa. A candidata derrotada chegou a dizer que enfrentava uma “campanha desleal” do PT.
Helena diz que já foi vítima do “marketing da pistolagem”, mas prefere “não esquecer o nome dos mandantes que pagam e se beneficiam politicamente desses crimes”.
“Sobre isso [a presença de Santana], não discuto, pois compreendo que Marina e Ciro certamente conversarão sobre o tema. Sobre o conteúdo programático caberia aos partidos e o faríamos se a chapa fosse composta.”
Segundo a porta-voz da Rede, no final do mês haverá um cenário mais claro sobre federação partidária e composição de chapa.
Enquanto isso, o objetivo do partido é trabalhar nas prioridades elencadas pela sigla, entre as quais estão eleger os dois candidatos a governador que serão lançados: Randolfe no Amapá, e o ex-deputado Audifax Barcelos no Espírito Santo.
Além disso, o objetivo é ultrapassar a cláusula de barreira, elegendo mais de 10 deputados federais e atualizar o plano que Marina apresentou para a campanha de 2018.
Tanto Helena como Marina têm histórias conturbadas com o PT. Ambas tiveram o partido como ponto de largada na trajetória política.
Helena foi eleita senadora pelo PT em 1998, e em 2003 foi expulsa da sigla por divergir de orientações da legenda e votar contra projetos de interesse do partido.
Depois, a ex-senadora migrou para o PSOL, onde ficou até ajudar a fundar a Rede, que foi registrada em 2015.
Já Marina, filha de seringueiros e natural do Acre, foi ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, no governo Lula.
Ela deixou o PT em 2009, filou-se ao PV e candidatou-se à Presidência pela sigla.
Em 2013, quando já tentava fundar a Rede Sustentabilidade, filiou-se ao PSB e assumiu a candidatura à Presidência pelo partido em 2014, depois da morte de Eduardo Campos (PSB-PE).
Ela terminou em terceiro lugar.
Já em 2018, candidatou-se de novo ao Palácio do Planalto, mas acabou a corrida nas últimas posições.
Por Júlia Chaib/FOLHAPRESS
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Redação por Bernardo Andrade