O recepcionista Gabriel da Silva Nascimento, 23, passou por um dos maiores sofrimentos da vida em dezembro em Açailândia (Maranhão), onde mora: foi vítima de agressões em plena luz do dia em uma rua da cidade.
Enquanto tentava entrar em seu carro, na frente do prédio onde mora, foi agredido no pescoço e chegou a ser sufocado por um casal, que o chamava de ladrão, ao se aproximar de seu próprio carro. O caso chocou a cidade de 113 mil habitantes.
Negro, Gabriel associa a violência ao racismo estrutural e cobra punição aos agressores, Jhonnatan Silva Barbosa e Ana Paula Vidal.
De acordo com Gabriel, Jhonnathan lhe perguntou o que fazia dentro do carro e acusou-o de roubar o veículo.
Gabriel, por sua vez, mostrou ser o dono do veículo, exibindo a chave do carro. Mesmo assim, foi vítima de xingamentos e, em seguida, agredido.
No sábado, dia 18 de dezembro, eu estava me organizando para sair para uma atividade.
Quando estava na rua perto do carro, na frente de casa, fui surpreendido por uma casal perguntando o que eu estava fazendo.
Respondi com toda a calma, e eles começaram a me chamar de ladrão. Eles me chamaram muito de ladrão e insistiram muito nessa palavra.
É uma situação constrangedora, e a gente se sente humilhado. Tenho uma personalidade idônea, sem nenhum delito na minha ficha.
Depois, fui ao hospital. Não precisei ficar internado, passei apenas por curativo.
Recebi apoio de familiares, de amigos e de colegas de trabalho. Sou recepcionista em uma empresa que presta serviço para a Caixa. Numa situação dessa, a pessoa fica indignada.
A gente não imagina que isso aconteça com ninguém, por mais que nosso país seja um país racista.
Os agressores fizeram um julgamento próprio e tentaram fazer justiça com as próprias mãos.
No domingo, fui à delegacia prestar um boletim de ocorrência porque estava decidido a prestar queixa. Prestei um depoimento sucinto, mas válido.
Tenho um pouco de medo, mas não temo intimidações porque eu estava com a razão, não cometi erro algum naquela situação. Não recebi ameaças, mas fico um pouco preocupado quando saio.
Minha rotina e minha vida mudaram. O jeito de sair de um local, a saída do trabalho e a saída para alguns lugares, como as caminhadas que eu gostava de fazer na rua, foram impactadas.
Não fiquei com traumas. Eu nunca tinha passado por uma situação de racismo, não via palavras nem agressão.
O caso repercutiu muito nos canais de comunicação e nas redes sociais para que houvesse uma ação da Justiça.
Desejo que haja justiça e que os agressores sejam punidos para que isso não aconteça jamais com ninguém no Brasil e no mundo todo. Infelizmente a gente vê esses casos acontecendo todos os dias, inúmeros.
Além de eu ter sido mais um caso, eu poderia ter sido mais um nos números de mortes.
Denunciei para evitar que aconteça com outras pessoas e que as leis não sejam tão brandas. Que os agressores sejam punidos.
Por José Matheus Santos/FOLHAPRESS
Foto: Divulgação
Redação por Bernardo Andrade