sábado, setembro 7, 2024
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Professor que descobriu autismo adulto cria coletivo que já detectou 52 outros casos na Unicamp

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A partir do diagnóstico de autismo, há pouco mais de um ano, o bacharel em direito e professor Guilherme de Almeida, 39, decidiu ajudar adultos que suspeitam ter a mesma condição que ele, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades no ensino superior.

Para isso ele criou, em julho de 2021, o CAUCamp (Coletivo Autista da Unicamp), grupo que encaminha essas pessoas a especialistas que cobram valores mais acessíveis em suas consultas.

O coletivo da Universidade Estadual de Campinas não recebe ajuda financeira, apenas voluntários colaboram, segundo ele. São pessoas que acreditam na causa da inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior.

E a ideia de Almeida, que já atuou como funcionário público em Curitiba (PR) e em Jundiaí (SP), é ampliar essa assistência.
“Nem sempre conseguimos oferecer custo zero, mas, nesses casos, buscamos encaminhamento a profissionais que atendam por valores sociais.”

Uma consulta, que pode chegar a R$ 250, saí por R$ 50, em média, com a indicação do coletivo, explica o professor. O CAUCamp conta ainda com perfis no Instagram e no Facebook para troca de informações sobre o autismo.

Ele afirma que entre julho e outubro do ano passado, o coletivo já identificou 52 pessoas dentro da Unicamp com diagnóstico de autismo entre alunos, docentes e funcionários, após o envio de um questionário para mapear essas pessoas no ambiente acadêmico e descobrir suas demandas.

Tudo isso com a orientação do psicólogo Mayck Hartwig, especializado em TEA (Transtorno do Espectro Autista) em adultos. Outros 70 casos estão em investigação.

“No primeiro dia, recebemos quase 70 formulários. Muitos traziam a história de cada pessoa e dúvidas se parentes eram autistas. Outros relatavam questões familiares e de relacionamento, indicando as razões pelas quais acreditavam estar no espectro”, afirma o coordenador do CAUCamp.

Com o coletivo, Almeida diz que objetiva -não exclusivamente- universitários que possam apresentar dificuldades ao longo do curso. “Queremos trabalhar para que as pessoas consigam terminar suas graduações ou especializações e trabalhar nas áreas a que se dedicaram na universidade.”

Ele declara que também recebe pacientes de outras idades, uns até com mais de 60 anos. “É um público diverso e que não recebe acompanhamento de forma sistematizada. É esse vácuo que tentamos preencher.”

Mestre e doutorando em educação pela Unicamp, Almeida conta que sofreu, ao longo da vida, com diagnósticos incorretos. Aos sete anos, teve a indicação de depressão, já que chorava muito e sofria com insônia constante. Além disso, ele afirma que tinha dificuldade de se relacionar com crianças e adultos.

“Mas isso não era detectado. O autismo ainda é relacionado com deficiência intelectual. E eu era considerado inteligente”, afirma. “Aí costumava ouvir que gente inteligente é estranha, não é sociável, é mais introspectivo. Quando tudo isso, na verdade, faz parte de uma mitologia que não tem amparo nenhum.”

O professor relata que teve uma crise mais complexa aos 12 anos. Naquele momento, ele passou por grandes mudanças: escola nova e o divórcio dos pais. “Colapsei. Não falava mais, não ia ao banheiro sozinho, não me alimentava sozinho, não me vestia sozinho.”

Mesmo assim, ele permaneceu com diagnóstico de depressão e ali, com medicamento usado para reduzir a tensão e a ansiedade, começou sua saga de duas décadas de medicações. “Tomei vários remédios para equilibrar minha suposta depressão crônica, mas minha condição permanecia. O sofrimento era enorme.”

As dificuldades durante a fase escolar, onde se sentia excluído, passaram a ser questões complexas, também, na vida acadêmica. Ele relata ter sensibilidade a barulhos, especialmente durante as aulas, e que chegou a tentar suicídio em 2015, antes de compreender o que passava com ele. Por isso, ele afirma que o diagnóstico precoce é fundamental.

O docente revela que finalmente recebeu seu laudo conclusivo após quase um ano fazendo avaliações. “Foi um divisor na minha vida. Quando entendi o que acontecia comigo, ganhei ferramentas para conquistar equilíbrio, tranquilidade e não sofrer mais. Cheguei a ter dúvidas se tornaria esse diagnóstico público, mas não quis ficar nesse armário.”

Apoio relevante De acordo com o psicólogo Hartwig, o diagnóstico de TEA contribui para a tomada de decisão clínica mais assertiva, garante à pessoa autista o acesso aos seus direitos e, ainda, pode amortecer a depressão. “Isso ajuda os adultos autistas a compreender suas dificuldades e buscar apoio relevante de serviços educacionais, de saúde ou sociais.”

Hartwig explica que adultos autistas diagnosticados tardiamente costumam relatar estresse de longa data em relação ao isolamento social, bullying, exclusão e a percepção de que são diferentes, o que torna necessária a assistência psicológica e psiquiátrica pós-diagnóstica.

O divulgador científico Bruno de Sousa Moraes, 3, sentiu isso na pele.

Ele teve sua condição confirmada em julho de 2021, mesmo mês em que conheceu o CAUCamp. Ele conta que sofria bullying na escola quando era mais jovem e, após o diagnóstico de uma amiga, em 2021, decidiu estudar mais sobre o tema, já que via muitas similaridades com ela.

Sem encontrar um coletivo que pudesse ajudá-lo na época, ele buscou ajuda com médico particular, já que seu plano de saúde também não oferece especialistas em autismo em adultos.

O divulgador científico afirma que estava sem emprego na época e, por isso, conseguiu um desconto pelo diagnóstico (que leva meses), R$ 800. Mas ele diz que a média de preço nas clínicas é de até R$ 2.100. “Com isso, já cheguei ao coletivo sabendo ser autista”, diz.

Mas Moraes reforça a importância de estar em um grupo que compreende seus anseios. “Trouxe a sensação de reconhecimento, visibilidade e autoestima. É preciso que exista um espaço que acolha autistas que entram numa universidade, por exemplo”, afirma Moraes, que pretende cursar mais cursos dentro da Unicamp, com o apoio do coletivo.

Erica Araújo Constanini , psicóloga especialista em TEA, trabalha em parceria com o CAUCamp atendendo a preços populares os pacientes enviados pelo coletivo. “Tenho visto recentemente cada vez mais casos de adultos que se descobrem autistas após avaliação de seus filhos”, afirma a especialista.

De acordo com a escritora Andrea Werner -mãe do Theo, 13, que é autista, e autora do livro “Lagarta Vira Pupa: A vida e os Aprendizados ao Lado de um Lindo Garotinho Autista”-, o diagnóstico até os três anos é importante, porque existe uma janela de desenvolvimento do bebê até essa idade, quando ainda há uma plasticidade cerebral da criança.

“É possível ensinar muitas habilidades que a criança não aprenderia sozinha por causa do autismo. Então é possível minimizar esses atrasos que a criança pode ter”, afirma. “Hoje vemos adultos sendo diagnosticados, muitas vezes, após seus filhos.”

Estimativa da ONU é que existam 70 milhões de pessoas dentro do espectro autista no mundo, 1% da população, sendo que a maior incidência é em homens.

Por Tatiana Cavalcanti/FOLHAPRESS

Foto: Divulgação

Redação por Bernardo Andrade

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Eric Lima

Criador do Portal Pontual

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na área de concentração de Epidemiologia de Agravos e Prevalentes na Amazônia pelo instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Pará (UFPA - 2013). Tem experiência em pesquisa na área de Epidemiologia, Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Pública, Avaliação de Serviço em Saúde e Saúde Baseada em Evidências, desenvolvendo estudos nos temas: Tuberculose, Resistência aos fármacos, Tuberculose Multirresistente, Coinfecção TB/HIV.

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