quinta-feira, novembro 21, 2024
HomeCotidianoTerra indígena com isolados no Amazonas está há quase 6 meses desprotegida

Terra indígena com isolados no Amazonas está há quase 6 meses desprotegida

Publicado em

Artigo Relacionado

Festival de Férias leva a garotada a um passeio histórico pelo Centro Cultural dos Povos da Amazônia

Diversão e aventura marcaram a abertura do Festival de Férias 2024, que ocorreu na...

Com presença de grupos indígenas isolados confirmada pela Funai (Fundação Nacional do Índio), a Terra Indígena Jacareúba-Katawixi, no sul do Amazonas, está há quase seis meses sem a renovação da portaria de restrição de uso, mecanismo administrativo necessário para evitar o risco de mortes dos indígenas.

Há 78 dias, o MPF-AM (Ministério Público Federal do Amazonas) está sem resposta para a recomendação feita à Funai de renovação do documento sob pena de responder pelo “genocídio dos isolados na região”.

Na última sexta-feira (20), a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), o OPI (Observatório dos Direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), o ISA (Instituto Socioambiental), a Opan (Operação Amazônia Nativa) e a Survival International encaminharam ao procurador que atua no caso, Fernando Merloto Soave, uma carta.

Nela, as organizações, que fazem parte da campanha “Isolados ou dizimados”, relembram ao MPF-AM o histórico da terra indígena, os riscos de morte dos isolados, a engrenagem de omissão atual na Funai e a falta de resposta ao MPF-AM desde março deste ano, além do fato de que a portaria de proteção venceu em 1º de dezembro do ano passado.

“Sem medidas imediatas, poderemos assistir ao desaparecimento silencioso dos Katawixi, sob condições violentas e dramaticamente invisíveis”, diz trecho da nota.

Jacareúba-Katawixi fica nos municípios de Canutama e Lábrea, na região do Purus, e o estudo sobre indígenas isolados na região data de 2007. Segundo o OPI, a portaria de restrição de uso da terra indígena tinha renovação de dez anos, mas, com a política do novo governo, os isolados perderam a proteção do documento.

Quatro das seis terras indígenas com presença de isolados na Amazônia protegidas por portarias de restrição de uso da área estão com os documentos com prazos vencidos ou com período de validade considerado por especialistas insuficiente para garantir a segurança e a vida deles.

Em duas delas, Ituna-Itatá e Piripikura, a Funai foi obrigada a renovar a portaria por decisão judicial.

No Amazonas, o MPF-AM optou pela recomendação, que continua sem resposta.

“Qualquer postura omissa implicará em responsabilidades diretas do órgão indigenista em relação ao risco de violência e extermínio contra as pessoas deste grupo indígena que mantém sua determinação proativa de isolamento e recusa do contato com as forças predatórias de ocupação regional”, afirma a carta das organizações ao procurador responsável pelo caso.

A carta das organizações enviadas ao MPF-AM diz ainda que as invasões e a grilagem de terra resultantes do impacto da BR-319 na região “tendem a agravar-se” em função da falta renovação da portaria de restrição de uso.

No relatório #IsoladosOuDizimados lançado no ano passado, a OPI fez uma projeção indicando que o desmatamento nesta região do Amazonas com indígenas isolados pode quadruplicar caso mantenha a média de registros atuais. A previsão é que alcance 170.000 km² em 2050, o que corresponde a quatro vezes a média histórica para os anos de 2012 a 2016.

De acordo com o indigenista e antropólogo do OPI Miguel Aparício, a região onde fica Jacareúba-Katawixi está ameaçada pela atuação de grileiros, madeireiros e pessoas que compram lotes “até pela internet” e desmatam a floresta.

Na década de 1990, segundo Aparício, a região vivia outro momento com demarcações e criação de unidades de conservação.

A partir de 2004, relata o antropólogo, iniciou-se um processo que ele caracteriza como “Rondonização do sul do Amazonas”, com a expansão do desmatamento para esta região até então preservada.

“Hoje, a região virou uma espécie de espinha de peixe com estradas e ocupação desordenada. Qual nosso drama? A falta de monitoramento, o risco de um genocídio dos indígenas”, disse.

Segundo a carta das organizações enviadas ao MPF-AM, dados oficiais do PRODES/INPE apontam que até julho de 2021 foram desmatados 5.889 hectares no interior da terra indígena, equivalentes a 3,3 milhões de árvores derrubadas. Os dados dos mesmos sistemas apontam que entre agosto de 2020 e 31 de julho de 2021 o desmatamento aumentou 60%.

“É arrepiante pensar que não sabemos o que pode ter acontecido ou acontecer com os indígenas”, afirmou o antropólogo.

O cacique Zé Bajaga Apurinã, coordenador executivo da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus, afirmou que as invasões aparecem de todos os lados e é angustiante viver na região sem saber como proteger “os parentes” que decidem viver sem contato.

“O que a gente pede do Estado é que se posicione. Faça a restrição de uso, que já se tinha, e coloque uma equipe de novo, uma proteção física. Não tem proteção. O que me deixa mais nervoso é que estão cada vez mais violentos”, declarou.

O direito ao isolamento dos indígenas é uma garantia prevista na Constituição Federal e na Convenção 169 da OIT.
Procurados, MPF-AM e Funai, não se manifestaram até a publicação desta reportagem.

 

 

Por Rosiene Carvalho/FOLHAPRESS

Foto: Reprodução

Redação por Bernardo Andrade

Últimos Artigos

PF combate esquema de venda de mercúrio no Amazonas

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira, 11, a Operação Mercúrio Conectado, com...

Fiocruz AM realiza atividades na capital e interior durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT)

O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazõnia) realiza uma série de atividades, entre...

Instituto Pontual apresenta resultados eleitorais próximos aos do TSE e inicia pesquisas para segundo turno

No último domingo, dia 06/10, o Instituto Pontual Pesquisa realizou uma pesquisa de Boca...

A três dias da eleição, David Almeida e Roberto Cidade estão em direção ao segundo turno, diz Pontual

O Instituto Pontual Pesquisas realizou estudo eleitoral para a Prefeitura de Manaus e coletou...

Eric Lima

Criador do Portal Pontual

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na área de concentração de Epidemiologia de Agravos e Prevalentes na Amazônia pelo instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Pará (UFPA - 2013). Tem experiência em pesquisa na área de Epidemiologia, Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Pública, Avaliação de Serviço em Saúde e Saúde Baseada em Evidências, desenvolvendo estudos nos temas: Tuberculose, Resistência aos fármacos, Tuberculose Multirresistente, Coinfecção TB/HIV.

Mais artigos como este

PF combate esquema de venda de mercúrio no Amazonas

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira, 11, a Operação Mercúrio Conectado, com...

Fiocruz AM realiza atividades na capital e interior durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT)

O Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazõnia) realiza uma série de atividades, entre...

Instituto Pontual apresenta resultados eleitorais próximos aos do TSE e inicia pesquisas para segundo turno

No último domingo, dia 06/10, o Instituto Pontual Pesquisa realizou uma pesquisa de Boca...