Espancado, Gengis Keyne Braga Barcelos de Brito, 47 anos, esta fora de perigo e deverá receber alta ainda nesta semana. Ele foi condenado por um dos crimes mais emblemáticos da história do Distrito Federal: o assassinato do estudante Marco Antônio Velasco, em 1993. Quase 30 anos depois de ter praticado o bárbaro homicídio, o ex-praticante de artes marciais foi atacado em casa e sofreu violentas pauladas no rosto por causa de uma dívida de aluguel.
A coluna apurou detalhes dos ferimentos sofridos pelo antigo líder da extinta gangue Falange Satânica. Ele teve fraturas na 7ª, 8ª, 10ª, 11ª e 12ª costelas. Além disso, Gengis sofreu lesões no tórax e joelhos. O ex-lutador teria deixado uma ala de pacientes mais graves e ido para uma enfermaria no Hospital de Base, onde permanece em observação.
Gengis foi espancado no apartamento onde mora, na madrugada de domingo (16/10), na Vila Planalto, após uma discussão com donos do imóvel por falta de pagamento de aluguel.
Briga na Vila Planalto
Conforme registrado na 5ª DP (Área Central), há 15 dias, os proprietários do imóvel onde Gengis vive com a esposa e o filho de sete anos têm cortado luz e água do local com o intuito de forçar o pagamento de três meses de locação atrasado.
No último sábado (15/10), mais uma vez, a água estava cortada e houve uma discussão entre a esposa do ex-líder da gangue com responsáveis pelo imóvel. Segundo consta no boletim de ocorrência, teve troca ameaças e Gengis chegou a questionar aos donos do local se “sabiam quem ele era”.
Após o registro na delegacia, pelo menos seis membros da família dona do imóvel se reuniram e, durante a madrugada, aconteceu a invasão ao apartamento. Segundo relatado pela esposa de Gengis Keyne, o marido foi agredido com socos e pontapés. Dois tiros ainda teriam sido disparados sem que alguém fosse atingido.
Noite de terror
Vizinhos de Gengis Keyne descreveram o espancamento sofrido pelo homem como uma “noite de terror”.
“Foi uma noite aterrorizante. Eu estava em casa, com meu marido e meu filho e ficamos os três encolhidos na cama. Estava todo mundo dormindo no momento, eram umas 4h, mais ou menos”, descreve uma moradora que pediu para ter a identidade preservada. “Não saí para ver quem era, pois não iria colocar minha vida em risco”.
A confusão teria começado no dia anterior, quando Gengis chegou em casa e viu que não tinha água ou luz. “Ele estava com uma faca e ameaçou os vizinhos, dizendo que nós que desligamos a água e a luz da casa dele, mas todo mundo sabe que ele não pagava o aluguel”, diz a moradora.
“Minha casa é aqui. Infelizmente, não tenho para onde ir. Estamos vivendo com um medo constate, um terror, pesadelo”, lamenta a vizinha.
Relembre o caso
O assassinato do estudante Marco Antônio Velasco, 16 anos, foi um dos crimes mais marcantes da história do DF. Atacado por 11 homens, entre adolescentes e adultos, ele teve traumatismo craniano e múltiplas fraturas.
Ocorrido em agosto de 1993 na quadra 316 da Asa Norte, a morte brutal foi motivada por uma discussão na porta de um colégio entre a vítima e membros da gangue Falange Santânica no dia anterior ao caso.
Gengis Keyne de Brito foi orientado pelo tio, que era delegado de polícia, a se apresentar às autoridades. Ele contou o que havia acontecido e delatou os companheiros. O problema é que Keyne não sabia que Marquinhos, como era chamada a vítima, havia morrido. Só soube depois que assinou a confissão.
No grupo, Keyne e outros quatro envolvidos eram maiores de idade a acabaram condenados a 28 anos de prisão. Por causa de atenuante, ficaram pouco tempo detidos. Os menores que participaram do ataque covarde foram para o antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), mas também não permaneceram muito tempo por lá. Um deles, inclusive, fugiu e não foi mais encontrado.
Keyne teve outras passagens pela polícia. Em 2003, por exemplo, acabou detido por tentar comprar um celular com um cheque falso. Em 2007, foi encontrado com droga e voltou à prisão.
A jornalista Valéria Velasco, mãe de Marquinhos, criou o Comitê Nacional de Vítimas de Violência (Convive) depois da morte do filho. Ela morreu em 2018.
Com informações de Metrópoles
Foto: Reprodução