Manaus | 27 de Agosto de 2019 (Terça-feira)
Cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Butantan comprovaram a eficácia de uma nova substância para tratar de um dos mais severos tipos de câncer em crianças, o ependimoma.
O ependimoma é um tipo de câncer cerebral infantil que surge do epêndima e atinge um tecido do sistema nervoso central. De acordo com o médico neurocirurgião Sérgio Cavalheiro, da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, esse tipo de câncer representa cerca de 10% dos tumores infantis do sistema nervoso central e até 30% dos tumores cerebrais nas crianças com até 3 anos.
“A situação é catastrófica”, disse Cavalheiro ao citar quando esse tipo de câncer atinge cérebro ou cerebelo e o tronco encefálico.
Ainda de acordo com o neurocirurgião, a única alternativa é a combinação cirúrgica, radioterapia e quimioterapia. E mesmo assim, a operação pode resultar em sequelas neurológicas, correndo o risco de não salvar o paciente.
“A gente fica sempre em busca de um medicamento para evitar as recidivas”, explica.
Testes
Através de testes in vitro e com camundongos foi constatado que um anticancerígeno produzido com glândulas salivares do carrapato-estrela é eficaz no tratamento do ependimoma.
As propriedades anticancerígenas da proteína codificada por genes do carrapato Amblyomma sculptum, nome científico do carrapato-estrela, foram descobertas nos anos 2000 e tinham sido comprovadas com tumores agressivos, como o câncer de pâncreas e o melanoma. “Quando descobrimos a possibilidade dessa droga, decidimos investigar suas ações contra o ependimoma”, informou o neurocirurgião.
Os testes com camundongos mostraram que o tratamento foi muito mais efetivo do que qualquer outro remédio utilizado atualmente contra o câncer. Com os medicamentos existentes, é possível inibir a viabilidade das células tumorais em cerca de 30%. A nova substância, batizada de Amblyomin-X, atingiu 70%.
Investimentos
Agora, os pesquisadores buscam investimentos que possam fornecer a infraestrutura necessária para a produção da droga que possa ser utilizada em testes clínicos com humanos.
“Não foi feito até hoje porque não tivemos infraestrutura ainda para produzir a proteína recombinante. Pelo menos aqui no Butantan, a gente está agora se organizando, não especificamente para esse [estudo], mas qualquer projeto que vier dessa mesma natureza. Mesmo a empresa que a gente tem parceria não tem essa infraestrutura”, explicou a coordenadora do Centro de Excelência para Descobertas de Alvos Moleculares, no Instituto Butantan, Ana Marisa Chudzinski-Tavassi.
Foi desenvolvido pelos pesquisadores um protocolo que garante a produção em escala para a disponibilização da substância para os testes clínicos.
Para submeter à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) um dossiê para solicitação de análise dos resultados obtidos até agora, é necessário a comprovação da produção da molécula de Amblyomin-X em condições de boas práticas.
Foto: Reprodução/ Imagem Ilustrativa.
Fonte: Agência Brasil.
Redação por Ana Flávia Oliveira.