Destinado à população em extrema pobreza, o Auxílio Brasil, que irá substituir o Bolsa Família a partir do próximo mês, não conseguirá arcar com o valor de uma cesta básica nas capitais do país.
Com a disparada no preço dos alimentos, o custo médio da cesta básica subiu em 11 cidades em setembro, segundo último levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), e sem tendência de queda.
A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Dieese leva em conta o decreto que determinou que a cesta de alimentos fosse composta por 13 produtos alimentícios em quantidades suficientes para garantir, durante um mês, o sustento e o bem-estar de um trabalhador em idade adulta.
“Os bens e as quantidades estipuladas foram diferenciados por região, de acordo com os hábitos alimentares locais”, afirma o departamento.
De acordo com o Ministério da Cidadania, o governo federal vai reajustar os valores dos benefícios pagos atualmente pelo Bolsa Família e concederá um complemento no valor do Auxílio Brasil, assegurando uma renda de, pelo menos, R$ 400 para cada família, por mês.
A cesta básica mais barata registrada em setembro foi em Aracaju, custando mais de R$ 454, segundo levantamento do Dieese. A cesta mais cara foi a de São Paulo (R$ 673,45), seguida pelas de Porto Alegre (R$ 672,39), Florianópolis (R$ 662,85) e Rio de Janeiro (R$ 643,06).
“Com o Auxílio Brasil, poderia-se comprar, atualmente, aproximadamente 60% de uma cesta básica. Entretanto, o valor da cesta básica vem crescendo a um ritmo acelerado”, afirma Alex Mondl von Metzen, consultor da AGR Consultores.
“Assumindo que essa tendência inflacionária se mantenha em São Paulo até dezembro, a cesta poderia vir a custar R$ 757,75 e o auxílio Brasil seria suficiente para comprar 52,8% dela. A inflação, no entanto, parece estar acelerando”, analisa o economista.
Segundo prévia da inflação divulgada nesta terça (26), o indicador voltou a acelerar e teve variação de 1,20%, a maior para um mês de outubro desde 1995. O aumento na conta de energia elétrica foi o que provocou o maior impacto na elevação.
Alex Mondl von Metzen diz que a alta na conta de luz está impactando também no valor da produção dos alimentos, elevando ainda mais o preço da cesta básica. “O arroz e o feijão tiveram uma queda, mas por um motivo ruim, foi porque as pessoas diminuíram o consumo pelos produtos estarem caros. Já o pão francês teve alta de 2.5%, em razão do aumento do preço do trigo e da energia elétrica”, afirma.
“Se considerarmos despesas com aluguel, a situação [do beneficiário] fica mais dramática. As últimas 11 previsões de inflação só aumentaram, a tendência é piorar”, diz o consultor.
Segundo pesquisa da PUC-PR a inflação média dos ítens que compõem a cesta básica é maior do que o IPCA, ficando próxima de 16% no acumulado dos últimos 12 meses.
“Sem dúvida a inflação afeta muito mais as pessoas de rendimentos mais baixos, mas na atual conjuntura ela tornou os preços dos itens da cesta básica inacessíveis para muitos brasileiros, pois é maior que a inflação média do IPCA”, diz o economista Jackson Bittencourt, professor da PUC-PR.
Por Ana Paula Branco/FOLHAPRESS
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Redação por Bernardo Andrade