Em mais um indicativo do forte caráter de campanha eleitoral antecipada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai a Salvador (BA) nesta quarta-feira (16) participar de cerimônia de “lançamento da pedra fundamental da unidade de ressonância magnética” do Hospital Santo Antônio, em Salvador.
O ato deve ser acompanhado pelo ministro João Roma (Republicanos), também pré-candidato ao governo da Bahia, e insere-se da tentativa do presidente de apostar em agendas no Nordeste para tentar alavancar a popularidade na região, onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem larga vantagem nas pesquisas eleitorais.
Bolsonaro tem reservado boa parte de seus compromissos, de suas entrevistas e manifestações para atividades com claro viés eleitoral e de crítica a adversários.
Em evento promovido pelo BTG, em fevereiro, por exemplo, Bolsonaro usou sua fala para cobrar apoio do mercado financeiro à sua reeleição, atacando Lula e listando, um a um, os pontos que devem moldar sua campanha eleitoral.
Nos últimos dias, Bolsonaro reuniu em Brasília, em diferentes eventos, ruralistas e evangélicos, dois segmentos que formam os pilares de sua base de sustentação, também com o objetivo de fortalecer os laços de sua campanha.
Aos evangélicos, disse que irá dirigir o país para o caminho que eles definirem.
Em sua live da última quinta-feira (10), chegou a listar um a um os ministros que devem deixar os cargos para disputar mandatos eletivos, deixando claro o viés de campanha do anúncio.
“Temos muita esperança no Tarcísio [de Freitas, ministro da Infraestrutura] em São Paulo, mas todos esses aqui realmente têm chance de se eleger”, afirmou.
Pela lei, a campanha oficial só começa a partir de 16 de agosto. Aproveitando-se de certa leniência da Justiça Eleitoral e de órgãos de controle como o Ministério Público, tanto Bolsonaro como outros candidatos têm, há muito tempo, colocado o bloco eleitoral na rua.
Como mostrou a Folha, os partidos, por exemplo, têm claramente burlado a lei e promovido eleitoralmente seus presidenciáveis nas propagandas partidárias no rádio e na TV, o que é proibido.
No caso do presidente, porém, parte dessa campanha antecipada é feito com amparo na máquina pública e com recursos federais.
No começo de março, o presidente usou evento de concessão de rodovia em São Paulo para enaltecer seu pré-candidato ao governo paulista, o ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas.
O evento, em São José dos Campos, teve tom de campanha eleitoral, com direito a motociata e uma bandeira erguida com a imagem do presidente.
No mês anterior, o presidente havia feito uma série de visitas pelo Nordeste. Em Jardim de Piranhas, no interior do Rio Grande do Norte, ele participou de ato que chamou de “jeguiata”.
Já em janeiro, em Macapá (AP), voltou a falar de fraude nas urnas e prometeu combater o MST em discurso feito após inspeção de cerca de 40 minutos em projeto de implantação de estrutura de fibra ótica.
O hospital que Bolsonaro visita nesta quarta (16) na Bahia é administrado pela instituição filantrópica OSID (Obras Sociais Irmã Dulce).
A Bahia é governada por Rui Costa (PT), que deve ficar no cargo até o fim do mandato, em dezembro. O secretário estadual de Educação, Jerônimo Rodrigues, como pré-candidato do partido ao governo.
No fim de 2021, o presidente recebeu críticas e causou mal-estar entre aliados por protagonizar cenas dos momentos de folga no litoral catarinense, enquanto a Bahia enfrentava crise gerada pelas fortes chuvas, têm constrangido aliados e membros do governo federal.
Segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Lula, Bolsonaro tenta modular alguns pontos de seu discurso, por exemplo, sobre as vacinas da Covid-19, ainda que insista em não se imunizar.
Em setembro de 2021, o Planalto preparou parecer jurídico para se blindar de possíveis acusações de propaganda eleitoral antecipada.
No documento, a área jurídica do governo recomendava “observar a prudência e a cautela” nos eventos de mil dias de governo para “afastar possíveis interpretações que conduzam para uma situação de campanha eleitoral antecipada”.
A Folha de S.Paulo questionou o TSE e o Ministério Público sobre atos do presidente em tom de campanha eleitoral, mas ainda não recebeu resposta.
O Palácio do Planalto disse que as viagens oficiais do de Bolsonaro não têm caráter eleitoral.
O Ministério da Saúde afirmou que a atual gestão investiu mais de R$ 9,4 milhões para equipar o setor de imagem (ressonância magnética e tomografia computadorizada) do hospital.
Por Mateus Vargas e Ranier Bragon/FOLHAPRESS
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Redação por Bernardo Andrade