Manaus | 30 de Julho de 2019 (Terça-feira)
A declaração do presidente Jair Bolsonaro, dada na última segunda-feira (29), sobre o desaparecimento do militante de esquerda, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, morto durante o regime militar, em 1974, trouxe bastante desgosto de entidades vinculadas à anistia e direitos humanos e juristas.
O presidente teria dito em uma entrevista logo pela manhã de ontem (29), que poderia “contar a verdade” sobre o que aconteceu com Fernando Augusto, e à tarde, revelou durante uma transmissão ao vivo pela rede social que, o pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, foi morto pelos próprios colegas do grupo Ação Popular (AP).
O jurista Miguel Reale Jr. se manifestou sobre as declarações do presidente, afirmando que para Bolsonaro, permanece em ‘guerra’ e ainda o chamou de louco.
“Para ele, não houve a Constituição de 1988 e a anistia. Bolsonaro continua em guerra. O caso dele não é de impeachment, mas de interdição. É uma pessoa que a cada dia prejudica a si próprio. Ele tem que ser protegido. A característica do louco é essa: prejudicar a si mesmo”, disse.
O governador João Doria (PSDB), que era um dos aliados nas eleições de 2018 de Bolsonaro, também se manifestou contra a fala do presidente, devido ao seu pai ter sido um exilado político durante a ditadura.
“É inaceitável que um presidente da República se manifeste da forma com que se manifestou. Foi uma declaração infeliz”, afirmou Doria, em evento no Palácio dos Bandeirantes. “Não posso silenciar diante desse fato. Eu sou filho de um deputado federal cassado pelo golpe de 1964 e vivi o exílio com meu pai, que perdeu quase tudo”, criticou Doria.
Nota
A Anistia Internacional se pronunciou por meio de nota, afirmando que o presidente fez “declarações duras” e pede para que o país “assuma sua responsabilidade”.
“É terrível que o filho de um desaparecido pelo regime militar tenha de ouvir do presidente do Brasil, que deveria ser o defensor máximo do respeito e da justiça no País, declarações tão duras”, escreveu a diretora executiva da entidade no Brasil, Jurema Werneck.
“O Brasil deve assumir sua responsabilidade, e adotar todas as medidas necessárias para que casos como esses sejam levados à Justiça. O direito à memória, justiça, verdade e reparação das vítimas, sobreviventes e suas famílias deve ser defendido e promovido pelo Estado Brasileiro e seus representantes.”
Foto: Adriano Machado/ Reuters.
Fonte: Com informações do Estadão.
Redação por Ana Flávia Oliveira.