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Nova chance | Cães resgatados de rinha possuem nova rotina de cuidados e carinhos

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Manaus | 26 de Dezembro de 2019 (Quinta-feira)

Cabisbaixo, o olhar caído, ele mal consegue erguer o pescoço. Vez em quando, mira as mãos de quem manuseia o soro e os medicamentos intravenosos que circulam por seu corpo, que, embora ainda guarde a aparência forte, está debilitado por uma infecção generalizada.

Muito machucada, a boca expõe cinco focos internos de necrose. Na região do crânio e das orelhas, há por toda parte lesões decorrentes de mordidas. A qualquer gesto ou mínimo movimento, os ouvidos expelem pus. Furos e cicatrizes espalham-se da cabeça às patas do animal.

Era 1h37 de sábado (21) quando despertou com 42,3ºC de febre. Sofreu, no começo da madrugada, duas convulsões e uma parada cardiorrespiratória. Diagnosticado com caquexia, grau extremo de enfraquecimento, desidratação e anemia, felizmente foi reanimado. A cada segundo, porém, suas chances de sobrevivência tornavam-se mais escassas.

Em sua batalha pela vida, o cão também enfrenta o obstáculo da desconfiança e do medo. “Ele não sabe o significado de um carinho, porque o carinho, para ele, sempre veio acompanhado de dor, sofrimento”, explica a veterinária Kelly Magda, 41, após passar dia e noite ao lado dele.

Na verdade, nada está sendo fácil para o pit bull Boston, assim rebatizado após ser resgatado de uma rinha de cachorros desmantelada pela Polícia Civil, na noite de sábado (14), em Mairiporã, Grande São Paulo. Das 41 pessoas presas na ocasião, apenas uma continua detida. Desde que foi salvo, Boston está na UTI.

Com longa experiência em resgates de pit bulls em situações de vulnerabilidade e vítimas de maus-tratos, Alessandro Desco, 46, da ONG Pit’s Ales, cuida de Boston e de outros 16 cães. Desse total, 11 vieram de Mairiporã. Outros 6 foram trazidos de uma chácara de Itu (SP), usada, segundo a Polícia Civil, para a procriação e preparação dos cães para as brigas.

Os animais resgatados estão em hotéis e clínicas da capital e de Cotia (Grande São Paulo).

“Primeiro, eles ganharam a liberdade. Depois, os nomes. Agora, esperamos que eles voltem a ter vida”, afirma Patrícia Rodrigues, 43, voluntária da Pit’s Ales, que ajudou no resgate dos cães.

Uma cadela retirada da rinha veio do México. Nomeada Bambina, ela precisa ser mantida longe de outros cães, porque, durante os seus aproximadamente dois anos de vida, foi condicionada a atacá-los.

De pelagem tigrada, a cadela, assim como outros resgatados, teve o pelo do corpo rapado –menos o do pescoço e o da cabeça. Na região depilada, os criminosos passam vaselina para evitar que, durante a briga, o concorrente ataque essa parte do corpo do animal.

“Na rinha, o objetivo é que o cão morda a cabeça e o pescoço do animal rival. O alvo é a jugular, para que ele morra por asfixia ou por hemorragia”, descreve Magda, desta vez sem conter as lágrimas.

Os pit bulls que vieram do sítio de Itu estão aparentemente mais saudáveis, porém carregam traumas psicológicos e têm dificuldade de se relacionar com humanos, na avaliação de Ilíada Lima, 33, veterinária que também cuida dos cães resgatados.

De cor caramelo e olhos verdes, Barbie, de cerca de um ano, permanece imóvel durante a maior parte do tempo, sem esboçar nenhuma reação. Mal consegue se levantar até para comer.

“Sua expressão é de tristeza. Quando um grupo de pessoas está por perto, ela começa a tremer e se afasta”, conta a veterinária. “Eles não são –nenhum deles– agressivos. Estão, isto sim, traumatizados e com muito medo”, conclui Lima.

Entre os cães libertados de Mairiporã está a jovem Bulgária, provavelmente de quatro anos. A cadelinha deu um susto adicional nos integrantes da ONG.

Com aumento das glândulas mamárias e pesando 15,8 kg, acreditava-se que ela tivesse dado cria na chácara de rinhas de Mairiporã. Buscas pela ninhada chegaram a ser feitas na área, mas sem sucesso. Após uma ultrassonografia, descobriu-se, porém, que os filhotes (de quatro a seis) estão ali, na barriga de Bulgária –ela deve ser mãe nesta quarta (25) ou na quinta-feira (26).

Exames comprovaram que, mesmo prenhe, a cadela era colocada no rinhadeiro para brigar.

Os cães usados nas rinhas pesavam entre 15 kg e 22 kg. Já os oriundos de Itu, onde funcionava o espaço de seleção e preparo dos animais, a pesagem média alcançou 25 kg.

Todos os voluntários envolvidos nos dois resgates sabem que o processo de socialização não será tarefa simples. Nem para eles nem para os cães. Deve demorar de quatro a seis meses, calcula o comerciante Alessandro Desco.

No momento, a recuperação e a saúde deles são a prioridade. Em seguida, eles serão vermifugados, vacinados e castrados. Só então estarão aptos à adoção, caso seja essa a decisão da Justiça a respeito da guarda dos animais.

Durante essa jornada, os pit bulls de Mairiporã e Itu vão nos dizer se ainda conseguem conviver ao lado do homem.

Desta vez, pacificamente.

Foto:

Fonte: ROBERTO DE OLIVEIRA – FOLHAPRESS.

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Eric Lima

Criador do Portal Pontual

Mestrado em Saúde, Sociedade e Endemias na área de concentração de Epidemiologia de Agravos e Prevalentes na Amazônia pelo instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/FIOCRUZ), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade Federal do Pará (UFPA - 2013). Tem experiência em pesquisa na área de Epidemiologia, Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Pública, Avaliação de Serviço em Saúde e Saúde Baseada em Evidências, desenvolvendo estudos nos temas: Tuberculose, Resistência aos fármacos, Tuberculose Multirresistente, Coinfecção TB/HIV.

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