Manaus, 9 de janeiro de 2020.
Enquanto o presidente Donald Trump comemorava vitória em seu embate com o Irã, celebrando a morte “de um terrorista implacável” e o fato de nenhum soldado americano ter morrido nos ataques iranianos, a visão no Irã era bem diferente. Ou, pelo menos, a visão que a mídia iraniana, controlada pelo governo, tentava emplacar.
Alguém que só acompanhasse pela imprensa iraniana o desenrolar dos acontecimentos após o assassinato do general iraniano Qassim Suleimani no Iraque, na sexta (3), a mando de Trump, poderia sair com a nítida impressão de que os EUA saíram com o rabo entre as pernas após Teerã retaliar com ataques a bases americanas no Iraque.
Em meio à guerra de versões, a agência de notícias iraniana Mehr chegou a anunciar que “mais de 80 soldados terroristas americanos” tinham sido mortos e “cerca de 200” haviam ficado feridos nos ataques com mísseis iranianos na base americana em Ain al-Assad, no oeste do Iraque, citando “relatos precisos de fontes locais” passados à TV estatal IRIB.
A Guarda Revolucionária iraniana também disse a jornalistas locais que o aiatolá Ali Khamenei estava coordenando uma segunda onda de ataques em uma sala de controle, e que 30 soldados americanos haviam morrido e vários helicópteros e drones tinham sido destruídos.
Segundo Trump, não houve nenhuma morte e ocorreu apenas “dano mínimo a nossas bases militares”.
Tudo armação, segundo a TV libanesa Al Mayadeen, ligada à milícia xiita Hizbullah, patrocinada pelo Irã.
“Os americanos impediram que qualquer soldado iraquiano se aproximasse para esconder as perdas causadas pelos mísseis iranianos”, disse a TV em sua conta do Twitter. Também na rede social, a TV creditava a agência iraniana Tasnim para dizer que “o sistema de defesa americano não conseguiu abater mísseis iranianos devido à velocidade extremamente alta dos mísseis Fateh 313.”
No discurso televisionado da Casa Branca, Trump fez questão de dizer que os iranianos é que haviam recuado, e que as forças americanas estavam preparadas para tudo.
Na mídia iraniana, nada disso apareceu. Ao final do discurso, o Tehran Times publicou artigo com o título: “Trump recua de mais conflitos militares com o Irã”.
Referia-se ao fato de Trump ter ameaçado, pelo Twitter, atacar 52 pontos no Irã, entre eles sítios culturais, se o país fizesse retaliações por causa do assassinato de Suleimani.
Em um jornal de grande circulação, o Jaam- e Jam, citava um suposto comentário de um jornalista da CNN, que foi usado no título de uma reportagem: “Correspondente da CNN diz que Irã mostrou que pode responder aos EUA”.
A Press TV, rede do governo iraniano voltada ao público internacional, também omitiu de sua cobertura no site as menções de Trump ao suposto recuo iraniano e aos poucos danos
inflingidos às bases do país. E apontava: “Autoridades americanas se negam a dar informações sobre os danos em suas bases ou mortes causadas pelos mísseis”.
Segundo o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), o Irã está em sétimo lugar no ranking dos países que mais censuram a imprensa.
“O governo do Irã prende jornalistas, bloqueia sites e mantém um clima de medo com assédio e vigilância, incluindo as famílias dos jornalistas. A mídia doméstica precisa respeitar rigoroso controle estatal.”
Fonte: Folhapress.
Foto: Reprodução|Sinotables.
Redação por Débora Almeida.