Manaus, 17 de janeiro de 2020.
Sob pressão tanto do Poder Legislativo como da comunidade judaica, o presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta sexta-feira (17) a demissão do secretário especial de Cultura, Roberto Alvim.
Em nota oficial, ele classificou como “infeliz” o fato do auxiliar presidencial ter parafraseado um discurso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazista, e ressaltou que, mesmo que ele tenha se desculpado, o episódio “tornou insustentável a sua permanência”.
“Reitero nosso repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas”, afirmou. “Manifestamos também nosso total e irrestrito apoio à comunidade judaica, da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum”, acrescentou.
Bolsonaro e Alvim conversaram durante a manhã, após a repercussão negativa do episódio. O presidente chegou a dizer ao secretário especial que ele permaneceria no posto. Horas depois, no entanto, foi obrigado a recuar.
Ao longo da manhã, deputados e senadores entraram em contato com o Palácio do Planalto cobrando a exoneração. Segundo relatos feitos à reportagem, líderes da comunidade judaica, cujo apoio ao governo é considerado estratégico pelo presidente, também pediram a Bolsonaro a demissão de Alvim.
A exoneração de Alvim será publicada ainda nesta sexta-feira (17) em edição extra do “Diário Oficial da União”. O presidente já tem buscado nomes para o cargo. O atual secretário do Audiovisual, André Sturm, é um dos principais cotados. Ele também tem falado ao telefone com indicados por sua equipe de ministros.
Sob pressão tanto do Poder Legislativo como da comunidade judaica, o presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta sexta-feira (17) a demissão do secretário especial de Cultura, Roberto Alvim.
Na manhã desta sexta (17), o Palácio do Planalto havia avisado o Congresso que secretário seria demitido após a repercussão do caso nas redes sociais e a manifestação pública da classe política.
Entre os que pediram a saída de Alvim estão o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), além do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.
“O secretário da Cultura passou de todos os limites. É inaceitável. O governo brasileiro deveria afastá-lo urgente do cargo”, afirmou Maia nas redes sociais. Já Alcolumbre, que é judeu, qualificou em nota o discurso de Alvim de “acintoso, descabido e infeliz”. E Toffoli disse que a fala foi “uma ofensa ao povo brasileiro”.
No discurso postado nas redes sociais, Alvim dizia: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.”
“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferramenta romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse o ministro de cultura e comunicação nazista em 8 de maio de 1933 em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Joseph Goebbels: uma Biografia”, de Peter Longerich, publicado no Brasil pela Objetiva.
Após decidir demitir Alvim, Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto pouco antes do meio-dia para participar de um almoço com funcionários da Presidência da República.
Oferecido no Clube Naval, o evento foi promovido por André Boratto, servidor da Secretaria de Governo que participou de uma edição recente do programa Master Chef, da Rede Bandeirantes. Bolsonaro foi convidado pelo ministro da pasta, Luiz Eduardo Ramos.
Fonte: Folhapress.
Foto: Evaristo Sá| AFP.
Redação por Débora Almeida.