Manaus, 20 de janeiro de 2020.
Os erros identificados nas notas do Enem 2019 não são limitados às provas do segundo dia, como havia sido divulgado no sábado (18) pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.
O governo Bolsonaro já identificou problemas nas provas do primeiro dia e ampliou o escopo de análise.
Após comemorar o sucesso na realização do Enem 2019, o MEC (Ministério da Educação) divulgou no sábado que participantes receberam notas erradas. Segundo o governo, o erro partiu da gráfica Valid, que passou a imprimir as provas no ano passado.
Até então, os erros confirmados haviam sido identificados apenas no segundo dia da prova (matemática e ciências humanas).
A assessoria do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao MEC, confirmou neste domingo (19) que passou analisar também as provas do primeiro dia (linguagens e redação).
De acordo com a assessoria de imprensa do instituto, a ampliação da análise ocorreu para tranquilizar os candidatos após o órgão receber pelas redes sociais muitos pedidos para que fosse considerado o primeiro dia.
No entanto, funcionários do Inep confirmaram à Folha, sob condição de anonimato, que já foi identificado erro na prova de linguagens, do primeiro dia.
No sábado, o governo trabalhava com a informação de que os erros poderiam alcançar até 1% dos participantes, o que representaria cerca de 39 mil pessoas. Não há informações se esse novo escopo de análise vai aumentar essa expectativa.
O Inep trabalhava até a tarde de sábado com um universo de análise de 50 mil provas, o que resultaria em um número considerado reduzido de possíveis erros. Mas esse universo muda a todo momento, segundo informações recebidas pela reportagem.
Os primeiros relatos surgiram nas redes sociais na sexta-feira (17), quando o MEC liberou as notas. O governo disponibilizou um email (enem2019@inep.gov.br) para receber reclamações.
O estudante Matheus Krabbe, 17, identificou problemas também na sua nota de linguagens, ocorrida no primeiro dia.
“Logo que vi a nota sabia que tinha alguma coisa errada. Porque fui melhor neste ano [2019] do que no ano passado mas a nota era mais baixa”, disse.
Krabbe é de Guarulhos (SP) e quer usar a nota do Enem para uma vaga em relações internacionais na USP -a estadual seleciona parte dos alunos a partir do desempenho no exame.
O estudante, que fez cursinho paralelo à uma escola técnica privada, encaminhou a mensagem ao Inep sobre seu caso, mas está pessimista.
“Não posso mais depender disso”, diz. “Na sexta-feira já fui buscar uma bolsa em cursinho”.
Também há relatos nas redes sociais de questionamentos na nota da redação, mas ainda não há confirmações sobre isso.
A estudante Thaís Garcia Inocêncio, 21, já encaminhou mensagem ao Inep questionando a nota de redação. Ela recebeu 780 na redação, mas avaliações de professores de seu cursinho, a partir do rascunho do texto, estimavam uma nota bem superior.
“Não acho que houve falha na correção, mas deve ter tido algum erro na digitação”, diz ela, que é paulista e atualmente mora em Londrina (PR).
Thaís chegou a iniciar uma faculdade em jornalismo, cujo ingresso foi pelo Enem, e depois desistiu. Agora, busca uma vaga em psicologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina). “O problema é que o Inep não se pronunciou, ninguém falou nada da redação e estou um pouco desesperada”.
O MEC manteve a data de abertura das inscrições do Sisu (Sistema de Seleção Unificada), prevista para terça-feira (21). Apesar do erro, o governo corre para evitar um estrago maior, inclusive politicamente.
A avaliação, tanto de integrantes do governo quanto de parlamentares que acompanham o MEC de perto, é a de que é preciso esperar qual será dimensão do episódio para calcular um possível dano maior a Weintraub.
Weintraub diz a interlocutores que a realização de um Enem sem problemas sempre foi crucial para sua permanência no cargo.
A preocupação se tornou ainda maior quando sua saída da pasta passou a ser defendida por vários aliados do governo -o presidente Jair Bolsonaro, entretanto, garantiu sua permanência até agora.
Segundo o governo, foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. A falha ocorreu na gráfica: os arquivos com essas informações teriam chegado ao Inep com divergências, segundo o instituto. O candidato fez a prova de uma cor mas a nota foi corrigida como se fosse de outra.
Além de olhar os casos específicos recebidos por candidatos, o Inep tem feito uma análise estatística que busca inconsistências em toda a base de dados. O Inep ainda não tinha a dimensão do número de atingidos até o início da noite de domingo.
Fonte: Folhapress.
Foto: Luis Fortes/MEC.
Redação por Débora Almeida.