Manaus | 14 de Fevereiro de 2020 (Sexta-feira)
As linhas de crédito sem garantias -como crédito pessoal e cartão de crédito- cresceram cerca de 15% nas carteiras dos quatro maiores bancos do país (Bradesco, Itaú e Santander, além do estatal Banco do Brasil) em 2019.
O movimento, segundo analistas, acompanha o ambiente de maior otimismo com a economia brasileira para este ano, mas também reflete esforços maiores dos bancos para manter o lucro em um cenário de juros na mínima histórica e ante um índice de emprego com recuperação abaixo do esperado.
Por não apresentarem garantia de pagamento -como é o caso do financiamento imobiliário ou do crédito para veículos, cujo próprio bem é a salvaguarda-, os bancos costumam cobrar juros mais altos nessas modalidades como forma de cobrir o risco de um eventual calote.
Para Victor Martins, analista bancário da Planner Corretora, a tendência é que as instituições busquem alternativas para captar recursos e também para manter o lucro.
“Os bancos recorrem a essas linhas porque buscam spreads [diferença entre o custo de captação e o de empréstimo] maiores e assim conseguem manter o lucro. Mas a presença mais forte das fintechs e o PIB ainda baixo limitam esse ganho”, disse Martins.
O crescimento em linhas mais arriscadas não significa queda em outros empréstimos, avalia o analista da Austin Ratings Luiz Miguel Santacreu. “Os bancos já terão desafios para manter a margem financeira [receita com operações de crédito] e não vão abrir mão das modalidades com garantias”, disse.
Parte desse desafio viria pelo limite imposto pelo Banco Central nos juros cobrados no cheque especial. Outro fator seria o aumento da contribuição sobre lucro líquido dos bancos para 20% neste ano.
As linhas de crédito consignado e financiamento imobiliário cresceram 16,6% e 9,6%, respectivamente, quando considerados os quatro bancos.
No caso do Banco do Brasil, o último dos quatro a divulgar o balanço de 2019, a linha de crédito que mais cresceu foi a de empréstimo pessoal, com alta de 45,2%. Crédito consignado subiu 14,3%, e cartão de crédito, 10,7%. O lucro do BB foi de R$ 17,8 bilhões em 2019.
A carteira total (que inclui pessoa jurídica e crédito agrícola) caiu 2,6%, puxada pelo recuo nos empréstimos a grandes empresas. Como reflexo, o banco reforçou o foco na administração de recursos.
Para Santacreu, da Austin Ratings, a mudança na carteira dos bancos, com mais risco de crédito, força-os a provisionar mais recursos contra eventual inadimplência.
“O controle desses indicadores é importante, principalmente em relação aos cortes de custos, que continuam primordiais para este ano”, diz.
Segundo Martins, da Planner, a expectativa é que a composição do lucro dos bancos também tenha uma mudança estrutural. “As receitas dos bancos tradicionais serão mais híbridas. Elas não serão mais só calcadas em crédito, mas contarão com participação maior de rendas de mercado de capitais, tarifas e prestação de serviço”, afirma.
Foto:USP Imagens / CP.
Fonte: FOLHAPRESS.