Manaus | 13 de Março de 2020 (Sexta-feira)
As agressões online a jornalistas, mais visíveis com os ataques de integrantes do governo federal, ganhou um número: 4 milhões. Essa é a quantidade de tuítes que desacreditam o jornalismo ou tem palavras de baixo calão dirigidas à imprensa em 2019.
Por dia, são 11 mil ataques; por minuto, sete. Isso representa 10% de todo o conteúdo que foi produzido sobre mídia profissional no Twitter em 2019.
As informações são de relatório anual da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), divulgado nesta quarta-feira (11). O monitoramento dos ataques virtuais no Twitter foi feito pela empresa de consultoria Bites.
Os ataques vêm de pessoas identificadas com a direita e com a esquerda, mas, no primeiro grupo, o número é significativamente maior.
Em 2019, perfis e sites conservadores foram responsáveis por 3,2 milhões das publicações negativas, ou seis por minuto. Já a esquerda publicou 714 mil agressões -uma por minuto.
Influenciadores digitais conservadores produziram 128 mil posts ao longo do ano. Desses, 2.560 posts, 2%, são de ataque à imprensa.
Entre os membros do Poder Legislativo, os ataques se concentram na antiga sigla do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Das 4.506 postagens, 1.575 são do PSL e 1.156, do PT. Os 1.775 restantes ficaram na conta de outros partidos.
Levantamento da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) de janeiro de 2020 mostrou que Bolsonaro foi autor de 58% dos ataques contra jornalistas em 2019.
Diferentemente do Abert, porém, para chegar a esse número a Fenaj contabilizou casos que ocorreram tanto em redes sociais quanto fora delas. A entidade contabilizou agressões que se tornaram públicas por meios de comunicação oficiais ou imprensa e denunciados à federação ou aos sindicatos.
Segundo a Fenaj, o presidente foi o responsável por 121 dos 208 ataques contra veículos de comunicação e jornalistas em 2019. A maioria dos ataques de Bolsonaro ocorreu em divulgações oficiais da Presidência da República. Entre esses ataques, houve discursos e entrevistas -transcritos no site do Palácio do Planalto- ou por meio do Twitter oficial de Bolsonaro.
Além dos ataques virtuais, o ressurgimento da censura no relatório da Abert chama a atenção. Em 2018, nenhum caso havia sido registrado, ante 5, que fizeram 16 vítimas, em 2019.
Um dos indicadores que caíram foi o do número de agressões físicas, como socos, tapas e chutes. Foram 24 ao longo de 2019, uma queda de 38% em relação a 2018. Ao todo, 30 repórteres foram agredidos. A região Sudeste foi a mais violenta e concentrou 11 dos casos.
Política, cidade e esportes são as áreas mais perigosas para os profissionais da imprensa trabalharem: as duas primeiras tiveram repórteres agredidos oito vezes cada e, a última, seis vezes.
Apesar de, na introdução, o relatório destacar a inédita ausência de mortes de jornalistas em decorrência do exercício da profissão, nas páginas seguintes há uma informação preocupante: a investigação do assassinato de dois comunicadores em Maricá, no Rio de Janeiro, ainda não concluída pela Divisão de Homicídios de Niterói.
Foto: José Dias/PR.
Fonte: Reprodução.