Manaus | 18 de Março de 2020 (Quarta-feira)
Uma das linhas de investigação policial trabalhadas no “Caso Flávio” foi de que o crime teria sido passional, uma briga motivada por ciúmes que teria culminado na morte do engenheiro Flávio Rodrigues dos Santos, de 42 anos. Porém, à polícia, os envolvidos apontam uma outra versão dos fatos, confirmadas pelos laudos periciais.
Em depoimento, Alejandro Valeiko afirmou que conheceu Flávio e Elielton Magno de Menezes Júnior, no dia 29 de setembro. Do grupo que foi para sua residência, ele só conhecia José Edvandro Martins de Souza Júnior, o “Júnior Gordo”, e Matheus de Moura Martins que apresentou os rapazes a Valeiko.
Informação que também foi confirmada pelo cozinheiro Vittorio Del Gatto, Júnior Gordo e Elielton Magno. À polícia, Vittorio informou que “das pessoas que estavam com Alejandro” só reconheceu Júnior (José Edvandro) e um outro “magrinho” (provavelmente Matheus, que já tinha frequentado a residência outras vezes).
Já Júnior Gordo declarou que conhecia Alejandro e Vittorio há cerca de um mês quando fez uma corrida, de Uber, para Matheus e o deixou na casa de Alejandro. Matheus teria convidado Júnior a entrar no local e se juntar ao grupo para beber.
Figura 1 – Depoimento Junior Gordo
Em relação a Flávio e Magno, José Edvandro disse que conhecia todos há algum tempo, detalhe esse que foi confirmado por Elielton Magno. Ambos se conheciam há aproximadamente dois anos.
Os demais, Alejandro e Flávio, Magno conheceu apenas no domingo (29) quando foi para residência de Valeiko.
Suposto ciúme não passou de fake news
Nas declarações, prestadas à equipe de investigação da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), há um consenso de que não havia relacionamento homoafetivo entre os envolvidos.
À polícia, Alejandro se declarou heterossexual e que “não mantinha relacionamento com nenhum” dos rapazes. Ele disse ainda que não tinha ciência se Flávio, Magno, Junior e Matheus eram homossexuais.
No depoimento de Junior Gordo, ao ser questionado se Flávio e Alejandro estavam se relacionando, ele afirmou que não sabia e que não tinha notado nenhum “clima” de paquera ou de ciúme entre ambos.
Figura 3 – Depoimento Jr Gordo
Já Vittorio, que trabalha na residência de Valeiko há cerca de 4 meses, reforçou o argumento ao dizer que não tinha conhecimento de Alejandro ser homossexual e “nem que tivesse um relacionamento sexual com nenhum dos que estavam no dia do ocorrido”.
Figura 4 – Depoimento Vittorio
Embora seja o único a comentar que teria notado um “clima” de ciúmes entre Alejandro e Flavio, Magno também declarou que não viu ninguém se relacionar durante o período em que esteve com o grupo.
Flávio não esteve no condomínio em ocasiões anteriores
Dos cinco porteiros que prestaram depoimento à polícia, apenas um declarou que teria visto Flavio no condomínio outras vezes, embora não pudesse afirmar, que de fato, o engenheiro tivesse ido até a residência de Alejandro.
Os demais, de forma unânime, declararam que “não sabiam informar” se o engenheiro esteve outras vezes no condomínio e que não o conheciam.
Figura 6 – porteiro Kelson Peixoto
Susto mal-sucedido culminou em tragédia
Baseado em depoimentos coletados pela Polícia Civil, o assassinato do engenheiro Flávio Rodrigues, 42, ocorrido no dia 29 de setembro, foi ocasionado por uma ação irresponsável do PM Elizeu da Paz de Souza e Mayc Vinícius Teixeira Parede.
Elizeu e Mayc declararam, à equipe de investigação da DEHS, que foram ao condomínio Passaredo, no bairro Tarumã, zona Oeste, na noite do dia 29 de setembro, e decidiram dar um “susto” no grupo que estava na residência de Alejandro.
A situação fugiu do controle quando Magno acabou sendo esfaqueado por Mayc e correu para portaria, com intuito de pedir ajuda. Júnior Gordo fugiu para o banheiro e Alejandro foi atingido com duas coronhadas na cabeça.
Flávio reagiu e foi contido por Mayc, que o levou para o carro de Elizeu e ambos decidiram abandoná-lo em um terreno, também no bairro Tarumã. Entretanto, ao ser solto na área de mata, o engenheiro teria travado uma luta corporal com Mayc, que assumiu à polícia, ter desferido golpes de faca no abdômen da vítima.
Em denúncia enviada à Justiça, em fevereiro deste ano, o Ministério Público do Amazonas (MP-AM) tornou réus no processo Elizeu da Paz Souza, Mayc Vinícius Teixeira – que confessou a autoria do crime, Alejandro Molina, Paola Molina e José Edvandro de Souza Júnior.
Foto: Alailson Santos/PC-AM.