Nesta terça (21), quando o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido) iniciar seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, um caminhão com três telões circulará pelas ruas de Nova York exibindo mensagens como “Bolsonaro is burning the Amazon” (Bolsonaro está queimando a Amazônia, em inglês).
O caminhão já rodou as ruas da cidade-sede da ONU, nos Estados Unidos, nesta segunda (20), primeiro dia de agenda oficial do presidente brasileiro em solo americano. Entre os locais por onde ele passou estão Wall Street, a Times Square e o One World Trade Center. No vídeo exibido nos telões ambulantes, as frases contra o presidente são acompanhadas do som de labaredas flamejando e de imagens, ora da floresta em chamas, ora de montagens de Bolsonaro com os cabelos em fogo.
A intervenção foi elaborada por um grupo de ativistas brasileiros e americanos e financiada por organizações não governamentais ligadas ao meio ambiente e à defesa da democracia no Brasil. Entre as frases exibidas no vídeo, estão ainda “Jail Bolsonaro” (prendam Bolsonaro), “Amazon or Bolsonaro” (Amazônia ou Bolsonaro) e “Bolsonaro, climate criminal” (Bolsonaro, criminoso climático). A ação é capitaneada pelas organizações Amazon Watch e US Network for Democracy in Brazil (Rede dos Estados Unidos pela Democracia no Brasil). Outras organizações envolvidas na iniciativa preferiram o anonimato para evitar retaliações do governo brasileiro.
“Sabemos que Bolsonaro veio a Nova York para mentir que seu governo está protegendo a Amazônia e, portanto, nós temos o dever de denunciá-lo”, explica Christian Poirier, diretor de programas da Amazon Watch. Ele afirma que a ação destaca haver nos EUA uma rede de brasileiros e brasilianistas que apoiam e se preocupam com a democracia no Brasil. “O futuro da floresta está ameaçado por este presidente, que diz protegê-la.”
Em nota, as organizações da sociedade civil envolvidas na ação afirmam que “a mera presença de Bolsonaro na Assembleia-Geral das Nações Unidas demanda uma resposta”. “Ele é o único chefe de Estado não vacinado. É o homem que desmontou os instrumentos de fiscalização do desmatamento em seu país. Ele é o líder que autoriza e anistia o aumento recorde na destruição da Amazônia e de outros biomas”, descreve o texto, que aponta o presidente brasileiro como responsável por “um dos maiores ataques aos povos indígenas do Brasil”.
O discurso de Bolsonaro na ONU é visto por diplomatas, militares e integrantes mais moderados do governo federal como um palco internacional importante na tentativa de reduzir a pressão sobre o Brasil em temas como preservação da Amazônia e direitos das comunidades indígenas. A imagem de líder descompromissado com a proteção ambiental e hostil a comunidades tradicionais é considerado um obstáculo à agenda externa do Brasil, além de ser um entrave à expansão do comércio exterior do agronegócio brasileiro.
“Bolsonaro representa tudo o que é ruim no Brasil neste momento: negacionismo, recusa às vacinas, agressividade contra povos indígenas, contra o povo negro e contra o movimento LGBT”, avalia o brasilianista James Green, professor de história do Brasil na Universidade Brown (EUA) e um dos coordenadores da Rede nos EUA pela Democracia no Brasil. “É um desejo de pessoas em Nova York demonstrar repúdio geral ao governo dele e às políticas que ele tem defendido.”
Segundo Green, este é um movimento que aponta para o progressivo isolamento e vulnerabilidade de Bolsonaro, como apontado por pesquisa Datafolha, que indica reprovação ao seu governo por 53% dos brasileiros. “Nenhum chefe de Estado, nenhuma liderança comprometida com meio ambiente, direitos humanos e democracia deve confiar em uma só palavra que Bolsonaro tenha a dizer nem recebê-lo ou tê-lo como aliado”, acusa o documento das organizações envolvidas na ação em Nova York, que apontam o presidente brasileiro como “um extremista e uma ameaça real ao futuro de todos nós”. Outros grupos e coletivos de ativistas brasileiros e americanos planejam ainda espalhar projeções e cartazes por Nova York nesta terça (21).
Por Fernanda Mena/FOLHAPRESS
Redação por Bernardo Andrade