Manaus | 29 de Fevereiro de 2020 (Sábado)
Todos os jornalistas da Cahiers du Cinéma, tradicional revista de cinema francesa, se demitiram, noticiou o Le Monde nesta quinta (27).
Segundo o jornal, cerca de 15 funcionários da publicação -entre eles, o editor Stéphane Delorme, que tinha 20 anos de casa- se afastaram de forma voluntária, em protesto contra a compra da revista no último dia 30.
Num comunicado divulgado na íntegra no site do observatório de mídias Acrimed, eles se posicionam contra a proposta de uma nova linha editorial para a publicação, que a partir de agora se voltaria para o cinema de autor francês.
“Fomos avisados de que a revista se tornaria ‘amigável’ e ‘chique’. No entanto, a Cahiers du Cinéma jamais representou nenhum dos dois, ao contrário do que alegam os acionistas. Ela sempre se comprometeu com análises críticas, e tomou posições claras”, diz o texto, lembrando um artigo famoso do diretor François Truffaut que denunciou as tendências burguesas de determinado cinema francês.
“Transformar a Cahiers numa vitrine chamativa, uma plataforma para promover filmes franceses autorais, seria distorcê-la.”
Os jornalistas ainda afirmam que há um conflito de interesses na compra da publicação. Isso porque, entre os 20 novos acionistas, estão oito produtores cinematográficos, além de executivos ligados a conglomerados de mídia.
“Seja quais forem os artigos escritos sobre os filmes desses produtores, eles seriam suspeitos de complacência”, diz a carta.
Na reportagem do Le Monde, o novo gerente empresarial, Eric Lenoir, negou que os novos donos da Cahier queiram intervir no conteúdo da publicação.
“A equipe editorial deve escrever o que quiser sobre cinema. Está fora de questão orientar essas escolhas”, disse ele. E acrescentou que ele mesmo sugeriria aos repórteres renovarem os laços com o cinema francês.
A Cahiers du Cinéma foi fundada em 1951 pelos críticos André Bazin, Jacques Doniol-Valcroze e Joseph-Marie Lo Duca, e é uma das publicações cinematográficas mais tradicionais do mundo.
Por suas páginas, passaram, além de Truffaut, diretores como Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e Jacques Rivette, entre outros.
A revista foi comprada por Richard Schlagman do grupo Le Monde em 2008, e posta a venda no início de fevereiro.
Foto: Reprodução – B9.
Fonte: FOLHAPRESS.