O cineasta baiano Geraldo Sarno morreu na noite desta terça-feira (22) aos 83 anos, no Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro, onde estava internado devido a complicações causadas pela Covid-19.
Autor de filmes como
“Viramundo”, de 1965, e “Sertânia”, o mais recente, lançado em 2020, Sarno ficou conhecido por retratar as mazelas do povo brasileiro, abordando temas como os movimentos migratórios do país, a miséria e a cultura popular, especialmente a nordestina.
Nascido em Poções, na Bahia, em 1938, Sarno estreou no cinema com “Viramundo”, documentário de 37 minutos no qual investigou as razões por trás do movimento migratório de nordestinos para São Paulo, ilustrando quem eram os trabalhadores que chegavam à cidade na segunda metade do século passado.
Na sequência, lançou uma série de curtas documentais, alguns vinculados ao projeto do fotógrafo Thomaz Farkas de retratar, nas telas, a realidade do povo brasileiro. Eles integram o conjunto de filmes que ficou conhecido como Caravana Farkas, e que inclui títulos como “Os Imaginários”.
Os documentários foram realizados numa época em que circulava entre as elites culturais e intelectuais de esquerda discussões sobre o que seria a “realidade brasileira”, o “Brasil profundo, autêntico”, ao mesmo tempo em que se especulavam as consequências do “subdesenvolvimento”.
Em 1973, Sarno fez sua estreia na ficção, com o filme de fantasia “O Pica-Pau Amarelo”. Foi o segundo longa baseado na série de livros infantis de Monteiro Lobato e acompanhava as aventuras de Emília, Narizinho e Pedrinho, que na adaptação encontravam personagens literários e mitológicos, como Capitão Gancho, Dom Quixote, Aladim, Branca de Neve e Hércules.
Na mesma década, Sarno lançou o documentário “Semana de Arte Moderna”, que trazia raros depoimentos de alguns dos artistas mais célebres do modernismo, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti.
Exibido na televisão, o média-metragem dissecava o impacto do modernismo na cultura brasileira 50 anos depois da histórica semana, reunindo ainda declarações de Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Depois disso, Sarno lançou mais uma série de curtas documentais ao longo dos anos 1970, alternados com alguns poucos longas, como “Iaô”.
Nele, o cineasta registrou o culto aos orixás no Brasil, a partir de um terreiro na Bahia onde o culto assume o papel de resistência cultural.
Em 1977, lançou ainda outra ficção, “Coronel Delmiro Gouveia”, uma cinebiografia sobre um dos pioneiros da industrialização do país, que foi perseguido por se recusar a vender seus negócios a empresas inglesas na virada do século 19 para o 20.
A produção de Sarno ficou escassa a partir dos anos 1980, com apenas cinco filmes lançados desde então.
O último, “Sertânia”, uma ficção, se debruçou sobre o imaginário nordestino em 2020, ao acompanhar o cangaceiro Antão, sobrevivente da matança de Canudos e levado ainda criança para São Paulo.
“‘Sertânia’ é uma espécie de ‘Viramundo’. São Paulo e o sertão são duas faces da mesma moeda. Essa moeda é o Brasil. Praticamente não existe família sertaneja com um membro que não tenha migrado ou que não irá. Depois que você compreende isso, percebe muito do Brasil”, disse o cineasta a este jornal na ocasião do lançamento do título.
Seu último trabalho foi uma oportunidade de retornar a temas que sempre foram caros a Sarno, como a seca, a fome e os movimentos migratórios, mas dessa vez por meio dos delírios fantasiosos do cangaceiro protagonista.
Com “Sertânia”, Sarno venceu os troféus de direção do Sesc Melhores Filmes e do Prêmio Guarani e o de melhor filme pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Fonte: FOLHAPRESS
Foto: Divulgação
Redação por Bernardo Andrade